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Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Com estratégia da confusão, Bolsonaro tenta escapar da crise de imagem

Jair Bolsonaro com olhos estalados - Ansa
Jair Bolsonaro com olhos estalados Imagem: Ansa

Colunista do UOL

13/04/2021 15h04Atualizada em 13/04/2021 15h04

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O capitão acende o pavio e tenta criar mais confusão no convés do barco nacional, fazendo arengas em conversa fiada com um senador da República que ainda pensa estar em estúdio de rádio fazendo programa esportivo, para tratar de assuntos que comovem o país, mas que não o tocam. Afinal, a pandemia é só um pretexto para que ele seja perseguido, segundo o cânone persecutório do capitão.

Para desviar o foco da opinião pública do que realmente interessa, ele usa uma estratégia rudimentar. Aquela de fazer fumaça. Criar dispersão para passar a boiada, como bem identificou o "grande ambientalista", ministro Salles, que já tinha explicado, na reunião ministerial do dia 22 de abril do ano passado, como a coisa funciona.

As perguntas que não querem calar são: para que essa confusão? E a quem serve? Principalmente se parece haver um sentimento difuso de que há uma perda de imagem do capitão. Ele perde espaço em volume de citações nas mídias sociais, território de palanque cativo, e perde também na comparação em pesquisa de candidaturas à Presidência da República, nas eleições de 2022.

Sim, o capitão está com perda de imagem. Na prática isso significa que está sendo julgado com menos atributos positivos e com mais adjetivações negativas. Imagem é um julgamento. O "xis" da questão é: diante de quem o capitão está perdendo imagem? E qual é a imagem que se desvanece?

O capitão foi eleito a partir de uma imagem de herói-vítima. Esbravejando contra "tudo isso daí", foi atacado por um lobo solitário e se transformou na vítima do sistema. O discurso e a representação perfeita de uma fantasia de libertador.

Está perdendo o lugar de herói. Tenta ficar ainda como vítima. Para isso precisa de perpetradores. Aí entra o STF (Supremo Tribuna Federal).

Mas, será que funciona?

Pode estar funcionando, sim, ao propósito de manter uma tropa unida. Um séquito que precisa de pouca coisa. Basta uma palavra de ordem. E cumpre a função de garantir a ele a participação em uma disputa não totalmente vexatória nas eleições do próximo ano. Ele precisa e quer manter a imagem diante desse grupo. Foi com ela que arrebatou corações descuidados e mentes entorpecidas pelo ódio do PT.

Imagem não é uma foto bacana publicada numa mídia. Imagem não é uma representação gráfica em que os cabelos estão certos, a roupa está apropriada e os acessórios estão adequados. Imagem é a soma de qualidades que são percebidas em dimensões específicas.

Imagem não é habilidade retórica, a entonação do discurso, a capacidade de mesmerizar audiências ou a habilidade de encantar cobra. Quem define a imagem é quem olha o tal encantador de serpentes.

Os ingredientes da imagem são: valores - as crenças, a motivação, os aspectos éticos que impulsionam o movimento; gestão - as entregas, o fazer, o cumprimento das promessas do que é anunciado; e relacionamento - a qualidade da comunicação, que pode ser inclusiva ou pode ser a expressão de repúdio e de exclusão.

Nessa passada direta e simples do entendimento do significado de imagem, é preciso reconhecer que valores morais e éticos do capitão podem ter, sim, ressonância em um grupo de pessoas que desvalorizam a vida, que não têm empatia, que têm como elemento central de motivação o próprio benefício. Aliás, inspiração que se materializa em decreto que quer armar a população, pesadelo por enquanto adiado pela ministra Rosa Weber.

O fazer, o entregar - agora tema de CPI da Pandemia no Senado Federal, leva em conta justamente esse outro aspecto da imagem, a gestão. A incompetência, a imprudência, a incúria, o desgoverno, como métrica que é facilmente auditável nos resultados de inflação, de penúria, de desemprego, de mortes, de milhares de mortes no país, são a marca do manejo do capitão na atual cadeira.

É assim a imagem. Uma construção que também inclui a comunicação - e vem daí que comunicar revela capacidade, habilidade de compartilhar conteúdo. Isso o capitão tem, de maneira franca, direta, simplista, pueril, rápida e rasa, ele conta o que pensa, o que sente e o que quer. E conversa com quem o entende - e para essa gente explica o que fez e faz - e essa gente acredita, porque a fonte de informação é o próprio capitão.

A preguiça intelectual também não permite questionar valores morais, éticos, humanitários. É fácil compreender qual é a imagem do capitão. E a que serve a sua estratégia de criar factoides e crises pela goela. Serve apenas para manter a atenção de um público que não pode olhar além do que mostra o seu líder. Seria um espanto defrontar-se com a realidade. Melhor não enxergar e incensar.

Todo cuidado é pouco. Nem sempre onde tem fumaça tem fogo. É garganta pura. Mas, se colar, colou.