Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Fux enquadra Bolsonaro e ensina que a democracia é inegociável
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Fux não falou sozinho, mas teve o peito para dar todos os nomes. A conversa com o capitão está suspensa.
O capitão cruzou o Rubicão.
O capitão está pagando para ver. E verá.
O Judiciário está mostrando, nas palavras e principalmente nas ações, que o capitão reformado desafia o que não pode ser colocado em jogo: a democracia. As falas mentirosas, com finalidade expressa de continuísmo ditatorial, envolvendo a vocação para a prática miliciana do poder, são inaceitáveis, "inegociáveis", nas palavras do presidente do STF (Supremo Tribuna Federal), Luiz Fux.
O despreparo e o descompromisso com as obrigações de conduzir o país dentro dos preceitos democráticos, cumprindo seu dever como gestor na promoção do desenvolvimento e respeito à sua gente, estão nas obsessivas tentativas do capitão de corroer as instituições democráticas, numa incansável cruzada de repetição de mentiras e falácias.
O presidente do STF, falando em nome de toda a Corte, com a representação da última instância da Justiça do Brasil, deu um basta. Agiu para demonstrar que basta. Assim como instituições outras, organizações da sociedade civil, pessoas de bem, todos os que experimentam a lucidez reconhecem como imprescindível. Basta.
Precisam ser contidos aqueles que transgridam, aqueles que tentam conhecer os limites e a paciência dos outros, para conquistar mais espaço. O birrento que quer o agrado que não lhe pertence precisa ser contido, retido.
O presidente do STF deu voz à indignação. E tem amparo da lei para, em nome da Constituição, externar mais que a perplexidade, por um anteparo na vocação nazifascista que tenta assaltar o país.
Como estabelecer o diálogo, proposto pelo STF, num gesto civilizado, em que a parte convidada não sabe se comportar civilizadamente. Há um pressuposto para o diálogo: o respeito e a honradez da palavra. A ciclotimia do capitão, usada como uma arma antidemocrática, não pode ser relativizada pelo impacto que provoca em rincões do Brasil, onde a autoridade do presidente da República é um oráculo.
Não é trivial a campanha do capitão pelo uso de droga ineficaz e prejudicial a quem está contaminado pelo coronavírus, estimulando gente de boa-fé a tomar a cloroquina e se desproteger. São mais de 560 mil mortos no Brasil. O genocídio é uma possibilidade a ser julgada em Corte Internacional. Mas o país se acostumou com as diatribes perversas. O Brasil seguiu enterrando os mortos, os sequelados seguindo no seu calvário. A CPI fez transbordar para o público a inércia, os indícios de corrupção, a insensatez, mas também a falta de humanidade.
Agora, na retórica desembestada, o capitão quer ir além. Quer fazer crer que há uma "ditadura" dos juízes. Inconformado com a existência da ditadura da lei, à qual não quer se submeter.
Cruzou o Rubicão.
Cada um dos mortos é chorado pelos seus. O país não pode chorar também a perda da democracia. Foi longa a noite da ditadura. Foram muitos os silenciados, foram muitos os excluídos, foi uma nação inteira submetida e que agora não pode se curvar.
Luiz Fux colocou a cerca. O capitão tem o cercadinho, mas não pode expandir o seu cercadinho ao país.
O capitão conta com o silêncio adocicado do presidente do Senado, que se esconde no cargo e encolhe o Congresso. Conta com o pragmatismo fisiológico de Lira, que, na Câmara dos Deputados, faz a distribuição de emendas parlamentares para garantir mandatos dos seus acólitos. Conta com o Aras. Ah, a PGR, esse muro que veda qualquer risco de o capitão ser citado para responder por eventuais transgressões à lei.
O presidente do STF alertou antes, na conversa com o capitão, para o inegociável respeito à Constituição. O capitão aquiesceu. Não entendeu. Cruzou o Rubicão.
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