Topo

Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pesquisa mostra a porta de saída para Bolsonaro; Aras e Pacheco se assustam

10.mar.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante cerimônia em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters
10.mar.2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), durante cerimônia em Brasília Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Colunista do UOL

17/08/2021 16h06Atualizada em 17/08/2021 16h42

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Capitão tem más notícias com a nova pesquisa de opinião feita pela XP. Aumenta a folga de Lula sobre o capitão na eleição pela Presidência, ano que vem. Aquela votação que o capitão quer tumultuar, porque já contaram para ele que perderá. O povo não o quer. O desespero poderá levá-lo a fazer mais bravata ou dar força às instituições para contê-lo. Cai a aprovação, aumenta a percepção de corrupção e diminui expectativa de melhores dias. O capitão caiu do cavalo. E com isso alguns ensaiam ir apeando.

O PGR (procurador-geral da República), Augusto Aras, tenta dar uma no cravo e outra na ferradura. Sob pressão do STF (Supremo Tribunal Federal) e dos subprocuradores, pede busca e apreensão nos domínios do dono do berrante a antidemocrático, Sérgio Reis. Quer livrar a própria cara.

O Aras vinha fingindo que não é com ele a escalada de impropérios contra as instituições. Mas, o gato subiu no telhado. Ainda que precise de aulas particulares de Direito para compreender as suas responsabilidades, ensaiou, ontem, sabe lá o porquê, uma breve rebelião contra a inércia e devoção ao capitão. Encaminhou ao STF pedido de busca e apreensão ao dono do berrante, que, secundado por iguais, pregou via internet a paralisação do país por um comboio de caminhoneiros e o cerco e depredação ao Supremo.

Aras não concluiu ainda o seu curso de Direito "Madureza" - velhos tempos - ou "Supletivo", ainda assunto para geração pretérita - embora já tenham se passado quase dois anos no posto e com garantias de emprego dadas pelo capitão. Prêmio mais pelo que não fez do que pelo que fez. Terá mais uma chance de aprendizado. Reconduzido ao cargo pode descobrir que não é um prócer, vassalo de um titular de um dos Poderes, mas que representa os interesses da sociedade contra desmando, que tenta ser ilimitado, de hóspede do Palácio do Planalto.

A pressão feita ao PGR pode apressar o seu aprendizado. Que o coro de vozes impacientes com a omissão se fortaleça e talvez também consiga acordar o Pacheco, presidente do Senado.

Aliás, o Rodrigo Pacheco gostaria mesmo é de ficar no escurinho do cinema, até que passasse todo o filme da crise institucional desenhada e protagonizada pelo capitão reformado. Ele vai se encontrar com o presidente do STF, Luiz Fux, amanhã, e espera-se da conversa que faça uma reciclagem, com claro entendimento do que são as suas responsabilidades institucionais.

Ficar embaixo da mesa da Presidência do Senado não vale. Precisa entender, como lustroso rábula, o significado da sua função. Botar panos quentes quando há um risco de fratura é pouco ou nada eficaz. As massagens e compressas podem, sim, dar a sensação de que, contido um inchaço, não há trauma.

Espera-se que, do encontro entre os chefes de Poderes - Judiciário e Legislativo - saia algo mais que uma nota ao distinto público, com as já repisadas manifestações de compromisso genérico de defesa da democracia.

O que se cobra, a ouvidos um tanto moucos, de Pacheco, são gestos menos "mineiros", na acepção pejorativa - com o perdão da mineiridade - que significa tentar ficar bem com todo mundo. A ênfase retórica do presidente do Senado é fraca. Porque suas palavras não combinam com os seus movimentos. Sabe-se que palavras são palavras, e para que sejam mais que falas, precisam de gestos, de ação. O Pacheco há de encontrar sinais mais evidentes do que ler discurso em horas semimortas, da sua cadeira no Congresso.

Ele tem planos. Foi-lhe cochichado, e ele acreditou. Está de olho em algum pote de ouro no horizonte, que a mosca azul da notoriedade, conquistada com o seu atual posto, promete. Sonha. Delírio de quem chega no palco ambicionando o papel que não lhe foi dado por merecimento, mas por oportunidade.

Sabemos que, não raro, prima-donas ficam impedidas de participar e sobe ao palco o estepe da vez. Sim, é verdade, acidentes também revelam talentos. Não é o caso. É preciso coragem para encarar o papel principal. Coragem que o Pacheco deve no exercício da sua função.

E, se ele não domina o entendimento do que significa ser um bom político mineiro, não será surpresa alguma que reafirme uma caricatura do estilo, "me deixa fora dessa". Para fugir da cena pode aparecer uma viagem ou um atestado médico e então passar a presidência da Casa para alguém receber os pedidos de impeachment dos ministros Barroso e Alexandre de Moraes, das mãos do capitão, e escapulir da foto que confirma o absurdo intimidatório do capitão ao Judiciário.

O que se espera de Pacheco é o mesmo que se cobra de Aras. Que cumpram o seu papel. A um, descer do muro, ao outro, não fortalecer uma muralha que impeça o andamento da Justiça. Os ministros do STF estão roucos de pedir ao PGR que se manifeste em representações contra o capitão. E nada.

Quanto ao capitão, que não nos faça passar vergonha com exercícios militares canhestros e paradas militares que só servem para envergonhar a plateia, porque revelam umas Forças Armadas em desmanche com suas obrigações constitucionais.

E aos delirantes com a luxúria da tirania, as milícias digitais, que recebam de donos de plataformas tratamento compatível com o uso do espaço público, privatizado por elas. A liberdade de usar as redes para apregoar contra a democracia é intolerável. Principalmente quando se ganha dinheiro com isso.