Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro passa vergonha e anuncia que quer mais: debater com Lula
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A decisão do eleitorado brasileiro vai se consolidando na medida em que o ex-capitão se mostra descolado da realidade das pessoas e do mundo. Depois do vexame em que o diretor-geral da Anvisa, contra-almirante Barra Torres, desenhou para ele que quando acusa é necessário mostrar provas, agora a mais recente pesquisa não deixa dúvidas: o ex-capitão queimou quase todo o capital eleitoral e tenta se manter no jogo conclamando o "seu exército" para a batalha campal, na contramão da ciência e das necessidades da população e criando falsas expectativas.
O desejo do ex-capitão de participar de debater com Lula é uma tentativa de ficar mais perto do do ex-presidente, que o faz comer poeira nas pesquisas. Embala as suas justificativas pelas fugas dos debates em 2018, no discurso repetitivo da vítima de uma quase execução programada - e dentro do que lhe é próprio, acusando sem dar evidências. Esquece de contar que estava liberado pelos médicos para debater, mas fugiu.
Se por um lado a inflação no país é a maior em seis anos, se o desemprego não cede, se os negacionistas ocupam os leitos dos hospitais porque não se imunizam, se o ministério do governo federal, tíbio e incompetente - simbolizado pelo Queiroga - tenta sobreviver lambendo botas da chefia, o distinto público parece estar acordando do pesadelo que é o atual desgoverno.
As pesquisas trazem más notícias para o ex-capitão e boas notícias para o ex-presidente Lula. A terceira via - uma tentativa retórica de setores da opinião pública e do decepcionado empresariado, que jogou as fichas no ex-capitão, para emular uma candidatura alternativa ao ex-presidente e ao atual, se arrasta como um verbete que vai logo cair no esquecimento.
As pesquisas também são um alerta para quem comemora os números. Dão um recado para o ex-presidente Lula e sua corte.
A realidade é cruel.
Pode parecer favas contadas para os entusiastas da candidatura do ex-presidente, a vitória. Nada mais perigoso. O já ganhou é o mantra dos quase vitoriosos. A História é generosa em mostrar. Fernando Henrique Cardoso, em 1985, foi fotografado na véspera da eleição municipal posando na cadeira de prefeito de São Paulo. Perdeu para Jânio Quadros no dia seguinte. A foto fica como recordação de que não se conta com a omelete antes que galinha bote o ovo.
Enquanto o PT segue, liderado por Lula, construindo alianças sob as bênçãos do diálogo e do acolhimento dos diversos matizes ideológicos, que tenham como base o compromisso com a maioria do povo - os mais pobres, os esquecidos e maltratados por políticas públicas incompetentes - os ruídos provocados por falas desnecessárias, por inoportunas e descalibradas, acendem a luz amarela entre os novos amigos.
A presença de Geraldo Alckmin de braços dados com o ex-presidente, que aparece como símbolo de capacidade de diálogo e moderação de Lula, pode estimular a percepção segundo a qual a política é filhote do marketing. Clientela nova é desconfiada. Olha a embalagem, mas testa o produto antes de comprar. Clientela antiga nem olha a embalagem, compra no escuro. Clientela arrependida precisa de oferta, muita oferta.
Se o marketing é parte do jogo, para o ex-capitão é o único jogo. Faz a enrolação diária na tentativa de acerto e erro para ver o que mais pega. A medida é o ricochete das redes sociais e o espaço na imprensa perplexa com a ignorância proposital. Mas, será que alguém acredita que o ex-capitão acha que a vacina não funciona? Nem a Michelle. Ela se vacinou.
As falsas polêmicas - a desqualificação da ômicron como fator agravante da pandemia, as desinformações em relação à imunização infantil, as acusações veladas e a retratação meia boca às falas contra a Anvisa - tudo é marketing, que sequestra a política e desobriga o ex-capitão de ser cobrado a trabalhar. Para ele está valendo o falem mal, mas falem de mim, a forma que manterá nos trending topics o seu nome criando a ilusão de poder.
De toda maneira, se mantiver a sua volátil palavra o ex-capitão vai debater com Lula. Gosta mesmo é de passar vergonha.
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