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Lula tenta acalmar petistas e Bolsonaro põe fogo nos bolsonaristas
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O ex-capitão precisou se desdizer - mais uma vez. Não tem dinheiro para as polícias Federal e Rodoviária. Todo o dinheiro vai para o Congresso Nacional distribuir em emendas. Agora todo o orçamento do país está franqueado ao Centrão, com o Ciro Nogueira numa ponta e na outra o Arthur Lira. Resta para a agenda do ex-capitão programar novas férias e fazer viagens para inaugurar pontes inacabadas e redes futuras de internet.
Agora é conferir se a paciência de bolsonaristas em carreiras militares segue no alinhamento automático, ou se o ex-capitão, que tentou botar fogo nos quartéis que estavam ensaiando reivindicação salarial, precisará do socorro dos hidrantes dos Bombeiros. Não tem dinheiro.
O que resta, agora que não governa, é tirar mais férias, comer camarão ou cuspir marimbondos nas suas redes sociais, implorando para ser pauta da grande imprensa. A tentativa de criar factoides - com vacinas e os seus desmoralizados porta-vozes contra a Anvisa - não deu resultado. Ele quer espaço para reverter as pesquisas de opinião, que o ameaçam deixar de fora do segundo turno nas eleições de outubro.
Enquanto isso...
Lula apela para o emocional daqueles que não esquecem dos seus mortos na pandemia que dizimou famílias, relacionamentos, e trouxe imagens de valas comuns, de filas de desemprego, e briga por ossos em lixão.
O ex-presidente da República apareceu na entrevista à imprensa em figurino de presidente - cabelo bem cortado, paletó idem, camisa - para enfrentar a Faria Lima, onde se descobre aos poucos, e tristemente, que a possibilidade da terceira via evitar a "polarização" no voto entre o ex-presidente e o atual é apenas um sonho de verão. Antes que chegue o inverno, o país terá um novo presidente, e não será o ex-capitão e nem uma "terceira via".
O dólar caiu. Tem gente falando em cenário internacional favorável, mas foi na esteira da fala de Lula que despencou. É possível que a Faria Lima esteja acordando para as suas memórias de governos anteriores ao atual. Se a memória é fraca, os registros na conta corrente não mentem. Ganharam muito no passado. Mas não significa que não terão desafios. Melhor com quem junta lé-com-cré.
Lula sinaliza para o público interno que ninguém vai ser dono do governo. Haverá conversas e discussões. Não tem dono de Posto Ipiranga. Lira ficará menor, mesmo sendo reeleito presidente da Câmara, que vai disputar (e ganhar, com tanta emenda). Ficou claro que a hegemonia, se houver alguma, num futuro governo, será dele. Do maestro.
A presença de Alckmin ao lado de Lula, como vice, já está certa. As explicações dadas deixaram pouco espaço para a militância que diz não "precisar" do ex-governador. Não se trata disso. É necessário entender o peso do emblema antes de fazer a contabilidade de ativos - em política e no imaginário de todos nós é o que conta. Lula lembrou a história do PSDB. Em algum momento estiveram juntos no mesmo palanque.
As eleições serão decididas menos pelas lembranças dos velhos bons tempos. Está viva a possibilidade de sair de uma gangorra em que a democracia perde o peso e pode ser jogada para longe. E pesa a falta da comida na mesa, do futuro sem diploma e do amanhã sem emprego. E estão vivas as dívidas, a dor no peito pelos mortos enterrados em despedida.
Naturalmente, o recado foi dado aos militantes do PT "puro sangue" - um partido construído a partir de um sindicalismo que não é mais o mesmo, em uma indústria que não é mais predominantemente feita de torneiros mecânicos, mas muito mais de tecnólogos. Também se dirige a uma Igreja católica ativa na "Teologia da Libertação", agora com o terreno ocupado pela atuação das dezenas de denominações evangélicas. E aos representantes de uma "Síndrome da Trilateral", inspirada no pensamento do conservador capitalista Zbigniew Brzezinski, para quem o mundo poderia ser controlado em torno de uma mesa com banqueiros, empresários e políticos poderosos, visão agora desafiada pela globalização do capital. Um mundo em que as quatro grandes agências de notícias - AP, France Press, Reuters e UPI, que tinham o acordo para monopólio da distribuição de notícias, hoje se ajeitam para sobreviver num universo em que os grandes conglomerados de tecnologia são plataformas de mídia, pulverizando, mas não democratizando, o acesso à informação.
Lula fez um be-a-bá da política. Ainda tem muito cuspe até abril. Conversa entre partidos, federação partidária, carinho nos militantes e nos categóricos. A lembrança que o presente aviva é da capacidade de conversar.
Do lado do ex-capitão também tem o esforço em manter acesa a chama do ódio e o discurso antidemocrático, antivacina. Ele que, com o rabo entre as pernas, anuncia que não vai dar. Não tem dinheiro para as polícias que tinha mandado dar. Porque já não manda. Parece que está entendendo.
No impulso de um comportamento inconsequente, incompetente - que são a marca do governo, faz e desfaz com a cara de pau de quem não sustenta o que promete, simplesmente pela incompreensão de qual é o seu papel. Acha que é um ditador. Neste momento, descobrindo que não manda. Não tem a chave do cofre. Tem que pedir para o Lira e para o Ciro Nogueira. Só lhe resta o cartão corporativo!
O ex-capitão colocou o Brasil na rabeira das nações e faz do passaporte brasileiro um símbolo também da sua pequenez, que avilta as possibilidades de sermos quem somos.
Mas, ainda tem muita conversa para acontecer antes que sejam afastadas, de vez, as ameaças antidemocráticas. Haverá muitas. É disso que vivem os fascistas e os milicianos: do medo do outro. O medo ficará com que o promove.
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