Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Na hipotética aliança entre centrão e militares, só um lado sairá vencedor
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Nesta semana, fugirei da temática geopolítica e abordarei atributos morais que tocam profundamente a formação e a carreira dos homens e mulheres das armas.
Alianças militares e políticas são feitas em torno de interesses convergentes, para reforçar valores, enfrentar oponentes mais fortes e conquistar objetivos comuns.
Segundo o dicionário Priberam, aliança é o laço que prende duas ou mais entidades que se prometem mútua amizade e auxílio.
Portanto, uma aliança exige confiança entre as partes.
Por anos, as Forças Armadas brasileiras foram contrárias às práticas políticas semelhantes às utilizadas pelo bloco alcunhado pejorativamente de centrão.
Consideravam-nas abjetas. Os militares, no papel de cidadãos, defendiam que elas fossem escoimadas do ambiente de governabilidade do país (e nada me convencerá de que essa postura mudou).
Razão pela qual me surpreendi ao ouvir a declaração de um ministro, integrante desse grupo politico, durante uma entrevista à Folha de São Paulo, a defender que a aliança entre o centrão e os militares estava indo muito bem e dando certo.
Que aliança? Quem assinou pelas partes? Os que firmaram têm legitimidade para assumi-la?
Há um desconforto entre membros do estamento militar, ao tempo em que cresce a dúvida sobre o objetivo de mesclar imagens tão distintas na opinião pública.
Para dar maior precisão ao conceito, usando uma fraseologia amena ao leitor em geral, pesquisei na internet e encontrei na enciclopédia digital Wikipédia um significado de centrão.
"Refere-se a um conjunto de partidos políticos que não possuem uma orientação ideológica específica, cujo objetivo é assegurar uma proximidade com o poder executivo de modo a obter sinecuras e distribuir privilégios a seus apaniguados.
Apesar do nome, não se trata necessariamente de um grupo de espectro político-ideológico ao centro, mas de um agrupamento de siglas amorfas, geralmente composto por parlamentares do baixo clero".
Não parece um elogio a ser emoldurado e afixado na parede principal do escritório do partido ou do político integrante do grupo.
Supondo que a aliança existisse, sobre quais bases ela estaria assentada? Respeito à verdade, honestidade de propósito e natural legitimidade? Segundo se percebe, esses atributos nunca ornaram, com clareza cristalina, o perfil desse grupo.
Os militares, por formação, tendem a basear suas ações em rígidos valores éticos e morais. Quando dizem sim é sim, quando dizem não é não.
A modelagem acadêmica e profissional os faz semelhantes, embora, como indivíduos, seus comportamentos possam diferir conforme suas percepções e interesses.
"Vão uns pelo largo campo da ambição soberba, outros pelo da adulação servil e baixa, outros pelo da artificiosa hipocrisia, e alguns pelo da religião sincera. Eu, porém, inclinado à minha estrela, vou pela estreita senda da cavalaria - por cujo exercício desprezo a fazenda, mas não a honra".
A inocência do cavaleiro da triste figura, personagem principal da bela obra castelhana, aponta luz para características românticas, mas essenciais ao mundo das armas. As principais delas, o idealismo, a honestidade, a perseverança no cumprimento da missão e a verdade como instrumento de realização.
Cheguei a acreditar que era possível a melhoria da prática política. Hoje, estou mais convencido que a solução passa por mudanças radicais nos processos de escolha e nas pessoas escolhidas.
Quanto à suposta coligação entre o centrão e os militares, defendida pelo insigne ministro, verdadeira ou não, apenas um lado obterá ganhos, e não será aquele dos que marcham em passo cadenciado.
Paz e bem!
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