Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É preciso conter a ruptura das relações entre civis e militares
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Por dever de justiça, informo que este artigo foi inspirado no texto VOLTEM AOS QUARTÉIS, produzido pelo professor, ex-governador, ex-senador e ex-ministro Cristovam Buarque.
Não se trata de referendar o escrito ou contestá-lo. O desejo é produzir novas reflexões sobre o assunto, que se tornou predominante nos últimos dias, pelo envolvimento de alguns militares na atividade política partidária.
A história brasileira do último século evoluiu paralelamente com a caminhada das Forças Armadas. A presença de militares, de forma voluntária ou tragados como coadjuvantes, em marcos importantes para a sociedade, trouxe críticas, mas, igualmente, respeito e confiabilidade para a Instituição.
Com o final do governo militar, nos voltamos para o interior dos quartéis, gerando maior profissionalização, tendo por consequência o reconhecimento nacional e, inclusive, internacional.
O projeto FT-90, incorporado pelo Ministro Leônidas, nos tirou da guerra tridimensional para a guerra de quarta geração e nos preparou intelectualmente para futuras modificações na forma de pensar e fazer o combate.
Os Ministros Zenildo e Gleuber Vieira deram foco ao aperfeiçoamento dos programas de liderança e à melhoria da qualidade dos recursos humanos pela modernização das escolas de formação.
O General Albuquerque, por sua vez, priorizou e atualizou a gestão administrativa da Instituição com o programa de excelência gerencial.
O General Enzo trouxe mais serenidade nas relações institucionais e deu vigor ao Braço Forte e Mão Amiga, colaborando no esforço pelo desenvolvimento do país, por meio das missões subsidiárias.
O General Villas Bôas, rompendo a política do grande mudo, deu voz externa à Instituição, abrindo-se ao diálogo com todos os nichos da nação.
Os últimos comandantes, Generais Leal Pujol e Paulo Sérgio, cumprindo o papel natural que lhes cabia, buscaram dar continuidade ao trabalho de antecessores e preservar o papel constitucional da Instituição.
O futuro dará concretude aos feitos de cada um deles, por afastado das análises emocionais que, feitas enquanto a ação se desenvolve, podem toldar a verdade. Ele os descreverá com isenção e justiça nos livros da história do Brasil e do Exército.
Hoje, enfrentamos uma conjuntura desfavorável, provocada pela disputa radical entre concorrentes do poder, com o uso indevido da imagem das Forças Armadas, a prejudicar o esforço, do último quarto de século, pelo reconhecimento genuíno da sociedade.
Para analisar o momento e as perspectivas, tomei um autor cuja obra é referência para as relações entre civis e militares: o professor doutor Samuel P. Huntington, docente de Harvard e coordenador de segurança nacional do governo Jimmy Carter, nos Estados Unidos da América.
Seu livro, O Soldado e o Estado (BIBLIEX, 2016), publicado pela primeira vez em 1957, é de leitura obrigatória por estudiosos do tema, mesmo que discordantes das teses nele contidas.
O acadêmico analisa o desenvolvimento histórico e hodierno das forças armadas de seu país, àquela época, e de outras nações, sustentando a importância das relações civis-militares para estabilidade da sociedade.
Afirma Huntington, a menos que seja criado um equilíbrio, a contínua ruptura das relações entre civis e militares não pode ajudar, mas prejudicar a dimensão do profissionalismo militar no futuro. Vê-se que não é um assunto original.
Defende que um corpo de oficiais políticos, divididos em facções, subordinados a fins ocultos, ressentindo-se de prestígio, mais sensível aos apelos da popularidade, colocaria em perigo a segurança do Estado.
Aqui, um comentário. Não se tome o todo pela a parte. Inegável que nesta quadra, militares tomaram gosto pela política partidária. Estão em seu direito cidadão.
Mas eles não representam, nem respondem pela Instituição. Tampouco, devem esperar da mesma o resguardo aos erros e acertos de suas caminhadas políticas.
A população precisa entender, também, que esses atores são agora cidadãos que se despiram da farda para disputar o voto.
De volta ao livro, por outro lado, um corpo de oficiais profissionais forte e altamente integrado, imune à política e respeitado por seu caráter militar, seria um imperturbável fator de equilíbrio na conduta da política.
Conservador empedernido, critica a sociedade liberal, ao opinar que o poder dos militares nessa forma de pensar as relações humanas e políticas é a maior ameaça a seu profissionalismo.
A meu ver, nessa formulação, o professor se mostra radical. Seria o militar adversário dos projetos liberais? Sob qual contexto, o econômico, o político ou o social?
Quase na conclusão, descreve a entrada da Academia Militar de West Point - inundada de ritmo e harmonia, que aparecem quando a vontade coletiva suplanta o capricho individual -, cuja similaridade com a nossa Academia Militar das Agulhas Negras reforça os ideais respirados no dia a dia do Cadete.
Certo de ser compreendido pelo professor Cristovam Buarque, é necessário compartilhar outras visões, mas, como rezam as normas acadêmicas, opiniões sobre responsabilidades das Forças Armadas não devem ser orações sem sujeito ou sujeito abstrato. Por clareza, use-se um sujeito concreto.
À Instituição, como a todas as outras, referências equilibradas e respeitosas, ainda que possam ser críticas, servirão para aprofundar o conhecimento, amainar os ânimos e consolidar a democracia construída por homens e mulheres em favor de homens e mulheres.
Pessoas ponderadas preferem o duelo ajuizado das penas, gerador de ideias, ao duelo insensato das armas.
Paz e bem!
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