Raquel Landim

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Opinião

Lula resgata Haddad, mas não endossa suas políticas e impasse continua

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi obrigado nesta quinta-feira (13) a resgatar seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, da crise de confiança que começava a se instalar. Em Genebra, Lula disse que Haddad é "extraordinário", negou qualquer pressão para que ele deixe o cargo e afirmou ainda que o ministro "tentou ajudar os empresários" na desastrada MP do fim do mundo.

O endosso de Lula ao titular da Fazenda já era esperado pela falta de alternativas, mas ajudou o mercado a reagir. O dólar recuou de R$ 5,42 para R$ 5,36, os juros futuros caíram e o Ibovespa praticamente empatou. Haddad também teve que vir a público novamente, dessa vez ao lado da ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Juntos os dois falaram numa agenda de revisão de gastos - algo que vem sendo prometido desde o início do governo - e que não serão mais propostas medidas de aumento de arrecadação. Afinal, não há mais espaço político para isso. Segundo os ministros, suas equipes vão formular um amplo cardápio de alternativas para o Orçamento de 2025.

Ninguém seria capaz de adivinhar isso na campanha eleitoral, mas o mercado ficou mais aliviado porque Haddad se tornou a salvação da Faria Lima e do empresariado. Ele é hoje a garantia de algum compromisso fiscal do governo Lula. O presidente, no entanto, se comprometeu em Genebra com seu ministro, mas não com sua agenda.

Na quarta-feira, ainda no Brasil, Lula havia dito o contrário do que Haddad e Tebet. Ele afirmou que o ajuste fiscal se daria via aumento de receitas e redução de juros, sem mencionar corte de gastos. Só não explicou como essa conta fecha.

Do jeito que está construído hoje o arcabouço fiscal de Haddad é inviável. Os pisos de despesas de saúde e educação estão sendo reajustados pela receita líquida do país (equivalente à arrecadação), que é superior aos 2,5% do teto de alta dos gastos previsto pelo arcabouço. Ou seja, essas despesas vão crescer até ocupar todo o espaço para, por exemplo, investimentos.

Esse limite vai chegar em 2026 ou 2027, mas o mercado se antecipa e, por isso, está puxando o dólar. Se nada for feito e o arcabouço for simplesmente abandonado, a moeda americana vai bater R$ 6, a inflação vai subir e o Banco Central vai ser obrigado a interromper a queda de juros (é provável que já o faça na semana que vem) e depois inverter o ciclo e elevar as taxas.

E isso não é uma previsão do apocalipse, é apenas a realidade.

Alterar os pisos de educação e saúde num ano eleitoral pode ser um suicídio político, mas dólar nas alturas, inflação e juros altos também é. É diante desse dilema que o governo está.

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Hoje Lula também jogou para o Congresso a responsabilidade por criar uma alternativa para financiar a desoneração da folha de pagamento, renovada sem fonte de recurso. É bem verdade que os deputados e senadores tem cada vez mais prerrogativa sobre o orçamento sem responsabilidade equivalente. Mas nunca é boa ideia deixar tudo nas mãos dos parlamentares. Eles são ótimos em encontrar maneiras de gastar, mas quem tem a chave do cofre é o ministro da Fazenda.

Mais tarde, em entrevista ao colunista do UOL, Jamil Chade, Lula reforçou a percepção de que endossou seu ministro, mas não sua agenda. Ele disse que "não está preocupado com o mercado" e que "o mercado deveria exigir que o BC baixasse os juros". A agenda de Haddad não é juro alto - a dele, nem de ninguém, mas, para reduzir os juros de forma sustentável, é preciso ajustar as contas públicas. Não dá para fazer isso com exigências de quem quer que seja.

Haddad precisa de respaldo do presidente, não apenas para si, mas para sua política econômica.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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