Raquel Landim

Raquel Landim

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Oposição venezuelana adota estratégia de diálogo e se aproxima do Brasil

A oposição venezuelana vem adotando uma estratégia diferente para enfrentar a ditadura de Nicolás Maduro: saiu do confronto e apostou no diálogo. Com essa mudança, aproximou-se do Brasil e, surpreendentemente, da diplomacia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2019, Juan Guaidó autoproclamou-se presidente da Venezuela. Foi imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos, de Donald Trump, pelo Brasil, de Jair Bolsonaro, pela União Europeia e outros países do chamado grupo de Lima, como Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Peru, México, entre outros.

A pressão internacional foi brutal e inútil. O ditador mantinha um considerável apoio popular e detinha o domínio das Forças Armadas do país, capturadas por meio de benesses e cargos.

Agora a oposição vem insistindo na apresentação das atas eleitorais e na recontagem dos votos. É uma estratégia política, porque sabe que a ditadura não vai entregar documento algum e o prazo inclusive já acabou.

A despeito de uma repressão feroz — já somam mais de mil presos políticos e processos se empilham no Judiciário — as declarações públicas do candidato opositor, Edmundo González Urritía, e da principal líder impedida de concorrer, María Corina Machado, seguem moderadas.

Essa mudança de tática da oposição tem algumas razões.

A primeira é o suporte popular a sua causa e a deterioração do apoio do regime. Os líderes oposicionistas sabiam que teriam votos para vencer mesmo sem os venezuelanos no exterior, que foram impedidos de votar.

A segunda é a troca dos líderes políticos ao redor do mundo. Joe Biden não é Trump. Lula não é Bolsonaro. Biden e Lula já tinham tentado o acordo de Barbados, levantando as sanções contra a Venezuela em troca de uma eleição justa, que Maduro descumpriu.

A terceira foi um evento que ocorreu na noite do domingo: a ameaça de invasão à embaixada da Argentina. O ex-ministro Celso Amorim, enviado de Lula a Caracas, apelou a Maduro e conseguiu garantir a segurança de seis assessores de María Corina que estão refugiados no prédio.

Continua após a publicidade

É esse apoio prático que estabeleceu uma confiança mútua entre a oposição venezuelana e o governo Lula que até então não existia.

E é isso que vem levando María Corina, Edmundo e outros a ignorarem a desastrosa declaração de Lula chamando de "normal" a eleição na Venezuela ou a abstenção do Brasil na resolução da OEA (Organização dos Estados Americanos).

A oposição venezuelana hoje está mais próxima de Brasil, México e Colômbia, que tentam uma solução negociada, do que do argentino Jair Milei, que quer apenas fazer barulho.

Vai funcionar? Difícil. Mas é um caminho diferente do que já foi tentado e falhou.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes