Deputados querem que BC 'torre' reservas sem garantias de segurar o câmbio
Com o dólar chegando a bater R$ 6,10, aumentou o coro de deputados da base governista entrando com todo tipo de medidas para tentar obrigar o Banco Central a interferir no câmbio.
Eles recorrem à Comissão de Ética Pública da Presidência, às ações civis públicas, ao Ministério Público —qualquer órgão que possa fazer barulho.
E batem, claro, em Roberto Campos Neto, que já está de saída do comando do BC
Ninguém questiona o direito legítimo dos deputados de reclamar como representantes do povo. Afinal, isso faz parte da democracia. Mas seus argumentos não têm lógica econômica.
Na prática, o que eles estão pedindo é que o BC "torre" reservas internacionais do Brasil para tentar corrigir em vão um erro do próprio Executivo.
Digo em vão, porque, provavelmente, não vai funcionar. Quando o mercado está assim, não adianta remar contra a maré. Pode-se, no máximo, amenizar o movimento, nada além disso.
O que provocou a disparada do dólar foi o governo ter decidido anunciar a correção da tabela do IR junto com o pacote de corte de gastos.
Segundo apurou a coluna, a equipe econômica era contra, porque sabia do estrago que ia causar.
Fazia meses que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vinha prometendo ajustar o ritmo de crescimento das despesas ao arcabouço fiscal.
Ele custou a convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o restante dos colegas da Esplanada da necessidade de algumas medidas, que podem ser avaliadas como ainda insuficientes, mas não deixam de ser um caminho.
Faz parte do pacote a adequação do reajuste do salário mínimo aos 2,5% de alta do teto do arcabouço. Também há correções no BPC, ajuste na pensão dos militares etc.
Seria o suficiente para melhorar um pouco o clima econômico do país? É provável que sim.
Mas a ala política do governo insistiu em trazer uma "bondade" para, na visão deles, garantir o projeto político de reeleição de Lula, e o pacote veio com a correção da tabela do Imposto de Renda ao mesmo tempo.
O que parece fugir aos operadores políticos é que o que vai sustentar a vitória de Lula é inflação baixa. E os preços não ficarão calmos com dólar acima de R$ 6 —e subindo.
Agora não adianta culpar o BC pela imensa trapalhada.
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