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Rogério Gentile

REPORTAGEM

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Publicitário bolsonarista é condenado por atacar médico anticloroquina

Cloroquina - Reuters
Cloroquina Imagem: Reuters

Colunista do UOL

11/02/2021 10h44

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A Justiça de São Paulo condenou o publicitário Genival José da Silva a pagar uma indenização de R$ 30 mil ao médico Benedito Carlos Maciel, superintendente Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

Em agosto do ano passado, o médico concedeu uma entrevista na qual defendeu o uso de máscaras e o distanciamento social, bem como disse que não utilizava e não recomendava medicamentos sem comprovação científica no combate à pandemia do coronavírus.

Maciel citou a cloroquina e outros remédios do chamado kit-covid, chamando-os ironicamente de "soluções milagrosas". Ele ressaltou a ineficácia desses medicamentos no tratamento da covid-19 e alertou sobre os riscos colaterais.

Em razão da entrevista, o publicitário atacou o médico nas redes sociais, chamando-o de "comunista, salafrário, verme, charlatão e assassino". Disse que a classe médica estava podre e que era responsável por uma carnificina "mórbida, macabra e desumana", "matando em nome de ambições políticas". O que está "comprovado cientificamente", ele afirmou, é que o uso da máscara é prejudicial à saúde.

O publicitário, que se apresenta nas redes sociais como Gê Silva II, aparece no seu Facebook em uma foto ao lado do presidente Jair Bolsonaro e publica uma montagem na qual o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta tem sangue nas mãos. Mandetta foi demitido do governo Bolsonaro justamente por discordar das ações do presidente no combate ao coronavírus.

Gê Silva II se defendeu no processo afirmando ser um "publicitário com cunho jornalístico", "dotado de conhecimento e informações". Disse que à época da postagem sofria a angústia de ter um ente querido doente.

Ele afirmou acreditar que a morte do parente ocorreu em razão de negligência médica, uma vez que o hospital não se utilizou da "medicina correta e segura", citando o uso precoce da cloroquina, da azitromicina e do zinco.

Sobre os ataques ao superintendente, disse que apenas exerceu seu papel de cidadão crítico, já que reside num país livre e democrático. Afirmou que não houve ofensa ao médico e que ele tenta calá-lo.

O juiz Guilherme Zuliani, da 3ª Vara Cível de Ribeirão Preto, não aceitou a argumentação. Disse que ficou comprovado o conteúdo difamatório das postagens. Ele ressaltou que o publicitário publicou uma foto do superintendente e fez graves e violentos ataques pessoais a ele. Além da indenização, o publicitário terá de apagar os comentários das redes sociais.

Cabe recurso à decisão.