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Com Mendonça no STF, o ultraconservadorismo no Brasil consolida nova fase
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Não chega a ser exatamente uma surpresa, mas a indicação de André Mendonça para uma cadeira no STF (Supremo Tribunal Federal), ocupando a vaga do decano Marco Aurélio, significa uma virada, ou o ápice da virada, na disputa social e política no país, que precisará lidar com o ultraconservadorismo evangélico que se consolida no governo Bolsonaro.
É uma espécie de mudança de fase —e nós estamos entrando em uma fase mais complexa e dura do jogo. Era definitivamente mais fácil lidar com a difusão da bancada evangélica, movida em grande parte por lobbies e interesses pessoais ou oligárquicos.
Com o tempo, veremos a diferença que é lidar com a histeria de Silas Malafaia, a dissimulação de Edir Macedo, as loucuras de Valdomiro Santiago e a desfaçatez dos bispos-parlamentares "donos" das Assembleias de Deus. Mendonça no STF significa um outro nível de luta.
O grupo que apoiou, se aproximou e entrou no governo Bolsonaro desde 2018 é muito mais sutil, discreto, nocivo e segue à risca as estratégias do ultraconservadorismo —ou o nacionalismo cristão— dos Estados Unidos.
Trata-se de fomentar, de fato, uma "guerra cultural". Chegar ao STF era fundamental para garantir a mais importante trincheira. Quando dois exércitos entram em guerra, os estrategistas de ambos estão focados no que está em disputa.
A ascensão de Mendonça é importante porque, definitivamente, nenhum ministro do STF tem esta ideia de guerra cultural em mente. Para alguns, Mendonça pode ser um "militante conservador" da pauta de costumes, e só.
Mas ele é um calvinista ultraconservador defensor da cosmovisão cristã como lentes pelas quais o mundo deve ser visto e assimilado. Ele vai travar esta guerra cultural com naturalidade e não como ativista; estrategicamente e não pontualmente.
Mendonça não é "terrivelmente evangélico" no trato. Não deverão esperar dele a forma hostil, agressiva e provocativa de lidar, típico dos bolsonaristas. Ele nem mesmo pode ser considerado um bolsonarista, como estamos acostumados a ver a tropa de choque do presidente.
Assim como seus pares conservadores reformados entendem que Bolsonaro é o bufão perfeito, concordam que Mendonça é a figura que assumidamente está do lado dessa proposta da guerra cultural, de impor uma cosmovisão cristã da sociedade.
Essa cosmovisão cristã é a institucionalidade democrática funcionando sob a orientação política cristã fundamentalista e a neutralização de contribuições cristãs progressistas que tentem contribuir para que a religião seja facilitadora, e não uma usurpadora, da esfera pública.
Por outro lado, Bolsonaro sabe que Mendonça era mesmo o nome ideal para que ele inclusive pudesse garantir a sua trincheira de disputa jurídica que pode acontecer em 2022. E Mendonça não está sozinho. Diferente de outros ministros, ele é um "coletivo".
Está levando para o STF as lideranças evangélicas fundamentalistas e conservadoras com enorme capacidade de mobilização e articulação, mesmo que a base evangélica seja diversa e esteja, pouco a pouco, perdendo o interesse em Bolsonaro.
Está levando para o STF a Anajure (Associação Nacional dos Juristas Evangélicos), e todo o seu muito bem articulado e ambicioso ativismo jurídico-religioso. Ele está levando esse núcleo cristão histórico, reformado e ultraconservador, que, a exemplo do reverendo presbiteriano Augustus Nicodemus, hostiliza e desqualifica evangélicos pentecostais, enquanto se acham o suprassumo da razão política e teológica.
Quando Bolsonaro começou a assumir "Deus acima de todos", a bancada evangélica e os tradicionais barões da fé no Brasil pensaram em poder, e passaram a mirar para quem discorda do projeto de poder que eles perseguem, sempre.
Os ultraconservadores calvinistas viram um líder carismático com coragem o bastante para fazer a transição de um país plural e diverso, para um país que, enfim, teria a "decência" de se submeter ao "senhorio de Cristo". Um país sem esquerda ou progressismo, quaisquer que sejam.
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