Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Órfão de Trump, Bolsonaro mira Texas como inspiração para agenda no Brasil
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Em 2020, com Donald Trump, Jair Bolsonaro assinou uma aliança internacional contra o aborto. O presidente brasileiro esperava que, a partir disso, surgisse uma forte parceria conservadora, com os Estados Unidos à frente, e uma aliança internacional em prol de uma pretensa "liberdade religiosa".
Além de articular uma agenda conservadora internacional, Bolsonaro mirava um governo ultraconservador que servisse de referência para a mobilização conservadora cristã no Brasil. No entanto, a derrota de Trump frustrou o projeto.
Mas, em maio passado, o governador do Texas, Greg Abbott, ocupou o lugar de liderança conservadora em defesa da agenda da "família tradicional" e na luta contra políticas que tratam da regulamentação do aborto. Na ocasião, ele proibiu no estado o aborto a partir da sexta semana.
Atualmente, o Texas está no centro de um intenso debate, que vai muito além da questão do aborto.
Abbott endureceu o projeto inicial. A nova proposta implica desde denunciar e criminalizar médicos que fazem aborto e pessoas que auxiliam uma mulher a encontrar um lugar para abortar até oferecer recompensas a vizinhos que denunciem mulheres que planejam abortar ou tenham abortado.
O Texas, assim, foi se tornando uma "cidade no alto da colina" para os conservadores. Não por acaso, enquanto em Nova York Bolsonaro foi alvo de imensa hostilidade e indisposição do prefeito Bill DeBlasio em recebê-lo—, o presidente encontrou abrigo no Texas em uma visita em 2019. Na agenda, um de seus encontros teve a presença de Greg Abbott.
Dali em diante, Abbott passou a estar no radar permanente não apenas da família Bolsonaro, mas de grande parte do campo conservador brasileiro.
A cada decisão de Abbott, aumentava a admiração e a inspiração. As ações de Abbott passaram a ser destacadas por apoiadores de Bolsonaro e até por parte da mídia conservadora, que passou a se referir ao governador texano como "a grande resistência conservadora nos Estados Unidos".
Texas, a Disney bélica dos filhos de Bolsonaro
Em dezembro de 2020, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) postou em seu Twitter: "Texas vai à Suprema Corte contra Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin! Para o procurador-geral texano, esses estados descumpriram a Constituição Federal alterando as regras eleitorais fora da via legal, discriminaram eleitores e permitiram FRAUDE na eleição presidencial."
Como o mundo inteiro acompanhou, todas as tentativas dos grupos republicanos trumpistas de provarem fraudes nas eleições que deram a vitória a Joe Biden foram frustradas. Mas a iniciativa e força conservadora do Texas inspirou Zambelli na postagem que, como objetivo final, buscava pautar a possibilidade de fraude nas eleições brasileiras com a urna eletrônica.
Em maio, o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) celebrava no Twitter que o "governador do Texas, Greg Abbott, assinou lei estadual banindo qualquer aborto". O parlamentar completou dizendo que "nem tudo está perdido."
O Texas tem sido a "Disney bélica" dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, que tem no estado um ponto turístico certo, que são os clubes de tiro. Visitante assíduo de feiras de armas e munições nos EUA, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tem nas propostas de Abbot para legislação de armas no Texas uma inspiração para o que a família Bolsonaro gostaria de ver no Brasil.
Convidado com frequência para feiras de armas no Brasil, recentemente Eduardo esteve na exposição armamentista Fair Show em Joinville (SC). Na ocasião, o filho do presidente, não por acaso, se referiu a Joinville como o "Texas brasileiro". A cultura armamentista de Abbott está no imaginário.
Em março, Eduardo celebrava a decisão de Abbot de decretar a abertura de todo o comércio no estado e desobrigar o uso de máscaras. Na última segunda-feira (11), Abbott intensificou sua cruzada em relação à vacinação, proibindo que qualquer entidade pública no estado obrigue aplicação do imunizante contra a covid-19 a qualquer pessoa que se opõe à vacinação.
Com sua luta direta contra a exigência da vacina e o uso de máscaras, e sua proibição ao ensino de questões raciais nas escolas públicas, Abbott vai pautando o conservadorismo brasileiro. De maneira discreta e articulada, ele inspira estratégias bolsonaristas que dificultam a superação da pandemia no Brasil e o respeito à democracia e à diversidade.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.