Ronilso Pacheco

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Opinião

Marielle e o Rio de Janeiro que precisa acabar

A divulgação dos nomes dos mandantes do assassinato de Marielle Franco tornou-se muito mais do que a revelação daqueles que tiveram a frieza e a covardia de pedir e planejar a sua execução.

A despeito da estupidez truculenta dos que esperneiam gritando que "Marielle acabou", ela se torna cada vez mais forte — e segue sendo um divisor de águas imparáveis.

Nós estamos descobrindo que toda essa história macabra por trás do assassinato de Marielle também nos fala sobre um Rio de Janeiro que precisa acabar. Um Rio de Janeiro que já não tem mais graça, impossível de relevar, intragável.

Acho que aqui acaba também qualquer resquício de um certo romantismo que o carioca tinha pelo jogo de bicho. Acabou aquela imagem de coroas fanfarrões, patronos de escolas de samba tão carismáticos, que nos induzia a ignorar seus crimes ou ordens de execução de adversários.

É preciso lidar com a realidade de que tudo agora se trata de uma guerra sanguinária, uma fonte de riqueza cujo dinheiro irriga um estado dentro do Estado. E não apenas comprando a fidelidade de policiais.

É o financiamento de esquadrões de matadores altamente profissionais. É a milícia como a encruzilhada de encontros entre política, polícia e negócios.

Ou o Rio acaba com a milícia, ou a milícia acaba com o Rio.

Já não é mais possível pensar apenas em federalizar crimes cometidos pela milícia no Rio de Janeiro. É preciso federalizar uma intervenção imediata para desmantelar e eliminar para sempre a milícia no Rio de Janeiro.

Dói só de pensar que a milícia é uma chaga incurável no Rio, com a qual seguiremos tendo de lidar — com sua crueldade, seus desmandos, sua relação promíscua com o poder político e forças de segurança.

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No Rio, o "crime organizado" perdeu lugar para o "crime governado". O crime aqui parece ter gestores, mandatários, auditores, parlamentares, delegados, e PIB, uma economia monstruosa. Está tão amalgamado com o poder e os poderosos que a definição de "organização" é insuficiente.

Essa gente que exalta a violência e sempre zombou dos direitos humanos e seus defensores e defensoras. Essa gente que odiava quem "defendia bandido" e orgulhosamente dizia que "bandido bom é bandido morto". Mas, todos eles, eram os verdadeiros bandidos.

Essa gente odeia o Rio e as pessoas que lutam por ele e pelas pessoas que aqui vivem. Eles conseguiram transformar a zona oeste em uma grande zona de perigo, e a Barra da Tijuca em uma terra amaldiçoada.

Ou o Rio acaba com a milícia, ou a milícia acaba com o Rio.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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