Malafaia e o último ato de vexame de um extremista evangélico

Silas Malafaia tornou-se o fundo do poço da extrema direita brasileira. Seu novo projeto pessoal, uma convocação para um ato no dia 7 de etembro contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, é uma demonstração fértil de seu delírio de líder político e espiritual do conservadorismo brasileiro.
A convocação é, no limite, um ato desesperado de quem não quer perder relevância política e holofote. Uma espécie de último ato, tudo ou nada, de quem tem amargado sucessivamente derrotas políticas importantes, que tem desmascarado sua pretensa hegemonia.
O homem contrariado por ter sido incapaz de ter convencido Jair Bolsonaro a indicar ao STF o primeiro nome defendido por ele (o desembargador carioca William Douglas) e que, só depois, derrotado pela indicação dos calvinistas, aderiu a André Mendonça.
O homem contrariado por ter sido incapaz de ajudar a reeleger Bolsonaro, apesar de todos os esforços, influência e presença em todos os atos, motociatas e comícios. Apesar de todas as orações e profecias.
O homem que viu a derrota de seu pupilo político, Sóstenes Cavalcante, ao propor um projeto de lei esdrúxulo, o "PL do Estupro", vastamente rechaçado pela sociedade.
Arrisco dizer que a manifestação convocada por Malafaia está fadada ao fracasso, por uma razão: é a primeira vez que temos uma convocação pública, direta, contra um ministro da Suprema Corte. É uma convocação de ataque, de ódio direto, ainda que mascarada de "defesa da democracia".
É um cálculo de leitura feito por Malafaia, de que, no ambiente político radicalizado no qual o Brasil foi empurrado pela extrema direita, as pessoas vão deliberadamente aderir à derrubada de um ministro do STF, pura e simplesmente porque Malafaia assim o quer.
Mas, mesmo em ambientes radicalizados, nem todo mundo está radicalizado a tal ponto. As pessoas podem radicalizar em palavras e atos em contextos nos quais elas já estão inseridas. Quando, já no ato, e provocada, a multidão (co)responde às hostilidades e aos ataques.
Isto é muito diferente de as pessoas saírem de casa tendo como objetivo principal, como meta, pedir que um ministro do STF caia. O ministro do Supremo não é o presidente da República.
A grande maioria da população, a base popular, das pessoas comuns envoltas nos seus dilemas do dia, não associa com clareza que raios as decisões do juiz da Suprema Corte estão afetando diretamente a vida delas.
Ainda que haja o conservadorismo e alguma insatisfação com o governo, na briga egoica com o "ditador de toga", Malafaia não parece ter uma multidão de fiéis ao seu lado — nada além de uma tríade de extremistas políticos de diferentes gerações que se retroalimentam de fundamentalismo e ódio.
Malafaia está infestado pelo pecado da sede de poder e sonha em demonstrar, nacionalmente, que ele pode pautar a política nacional. E o sonho para ele seria provar isso, influenciando a queda de Moraes.
E esta análise não é uma defesa do ministro. Há questões em sua forma de proceder, e o debate está posto. Mas este texto é sobre a tristeza de ver uma liderança evangélica dedicando seu tempo ao desserviço de empurrar o país para a radicalização e o extremismo.
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