Mourão e Bolsonaro se dão tão mal como Dilma Rousseff e Michel Temer
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O presidente Jair Bolsonaro falou a pura verdade quando disse na segunda-feira (10), em entrevista à CNN, que não conversa com seu vice, o general da Reserva do Exército, Hamilton Mourão. Especialmente nos últimos tempos e na tomada de decisões importantes.
Os dois já se entenderam melhor. Mas, hoje, Bolsonaro e os filhos não têm a mínima confiança e simpatia pelo vice-presidente da República. A recíproca é verdadeira. Os dois têm um relacionamento semelhante ao que a ex-presidente Dilma Rousseff tinha com seu vice, Michel Temer.
Quando toma alguma decisão que envolva o vice, o chefe do Planalto não conversa, ele comunica a Mourão o que deseja que o general faça.
Aliás essa é a grande diversão do presidente da República: impor sua autoridade sobre os generais que o cercam, especialmente aqueles que prestam serviço no governo.
É uma espécie de vingança por ter tido que deixar o Exército nos anos 80 após cair em desgraça entre os comandantes militares. O ex-presidente Ernesto Geisel chegou a declarar à Fundação Getúlio Vargas que considerava Bolsonaro "um mau militar".
Mourão chegou a ser colega de Bolsonaro nos tempos em que serviam no Rio de Janeiro. Mas o tempo os afastou.
A postura independente de seu vice, com declarações públicas sem consultá-lo, foi deixando Bolsonaro cada vez mais irritado com Mourão.
O general não se comporta como um subordinado. Ouve e aceita as missões que lhe são destinadas quando concorda. Se não concorda, argumenta educadamente que não se considera apto. Isso irrita o presidente.
Mas o momento de maior irritação e que marcou o afastamento definitivo entre os dois foi uma entrevista de Hamilton Mourão à Globonews, no dia 15 de julho.
Ao explicar a diferença de formação entre os dois, o vice disse que Bolsonaro "encerrou a carreira [militar] dele num posto, que é o posto de capitão, onde você é muito mais físico do que intelectual".
Na interpretação dos filhos do presidente, Hamilton Mourão, na prática, chamou o pai de ignorante. Carlos Bolsonaro, que já estava praticamente rompido com o vice, foi o que mais reclamou junto ao pai.
O outro lado da moeda é a forma como o vice vê Jair Bolsonaro.
Para Mourão, o chefe do Planalto já o descartou como companheiro de chapa numa eventual campanha à reeleição.
O general da Reserva do Exército se prepara, então, para a separação definitiva. Pretende disputar algum cargo político em 2022. Considera que já teve exposição pública suficiente para lhe permitir uma eleição.
Tem menos pretensões a uma candidatura presidencial, mas crê que pode se eleger governador ou senador pelo Rio Grande do Sul, pelo Rio de Janeiro, ou por algum estado da região amazônica, onde atuou como comandante militar. O tempo dirá o caminho, acredita.
Para os bolsonaristas, apesar de Mourão e Bolsonaro nutrirem hoje uma antipatia mútua semelhante à que havia entre Dilma e Michel Temer, o desfecho da relação não será igual.
Temer articulou a favor do impeachment de Dilma. Mourão não tem trânsito no meio político que lhe permita conspirar. Tem mais interlocução com militares, mas hoje, como membro da Reserva, já não teria tantas condições de se movimentar na caserna.
Acha melhor cuidar a própria vida e ignorar os ataques do presidente. E assim, os dois vão tentar levar o (mau) relacionamento até 2022.
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