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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro choca o ovo da serpente com a reforma ministerial

Bolsonaro fazendo arminha - Sem Filtro Laerte - Diomício Gomes/O Popular/Folhapress
Bolsonaro fazendo arminha - Sem Filtro Laerte Imagem: Diomício Gomes/O Popular/Folhapress

Chefe da Sucursal de Brasília do UOL

30/03/2021 09h07

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Imagina se na invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em vez daqueles malucos seguidores de Donald Trump, fosse um monte de policiais militares e milicianos incentivados pelo presidente da República? E diante de um Exército inerte?

Nesta reforma ministerial do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se preocupou em armar um cinturão de apoio nas áreas que detêm o monopólio das armas no nível federal: mudou o ministro da Defesa, fez os comandantes militares colocarem seus cargos à disposição e designou um policial federal de sua inteira confiança, Anderson Torres, para assumir como ministro da Justiça.

Nunca antes na história da República o Ministério da Justiça foi chefiado por um policial federal. Neste caso, amigo pessoal do filho do presidente e senador, Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), investigado por prática de "rachadinhas" com o salários de seus assessores quando deputado estadual.

Para completar, em todas as reformas econômicas e salarias Bolsonaro tem protegido ao máximo as forças de segurança dos Estados. Busca ter maior influência sobre elas do que os próprios governadores. E todos sabem das ligações entre o baixo clero das forças estaduais de segurança e as milícias locais.

O incentivo da deputada bolsonarista de raiz Bia Kicis (PSL-DF) ao motim de policiais baianos mostra bem o tipo de relacionamento que esses aliados históricos do presidente cultivam com as forças de segurança locais.

Os bolsonaristas raiz, aliás, estão sendo preservados ao máximo por Bolsonaro, mesmo em meio à maré negativa na politica e as pressões que vêm enfrentando para se afastar do poder.

Para o lugar de Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores, foi designado o igualmente conservador Carlos Alberto Franco França, que havia sido indicado para o cerimonial do Palácio do Planalto pelo próprio Ernesto. Ninguém mexeu com a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, nem com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Ah, o presidente entregou o controle do Congresso ao centrão!

É verdade. A estratégia do presidente com o Congresso é manter o toma lá dá cá da velha política que tem praticado desde que começou a perder pontos nas pesquisas de opinião. Essa turma ainda pode levar mais, pois a proximidade com o centrão protege o presidente de um processo de impeachment e não ameaça seu controle sobre os setores armados do aparato estatal.

Fica de fora apenas, no momento, o Supremo Tribunal Federal, o controle sobre a Justiça.

Mas Bolsonaro ainda nomeará mais um ministro para a corte, aumentando a divisão interna. A expectativa do presidente é que, a partir de então, os ministros do STF contrários a seus ditames se sentirão acuados e sem a proteção de chefes militares "institucionais", como diria Fernando Azevedo, ejetado do Ministério da Defesa.

É por essas e outras que Bolsonaro tem dito e reafirmado que não deixará facilmente o Palácio do Planalto. Para completar, como Donald Trump, o presidente brasileiro tem ameaçado não reconhecer legitimidade nas eleições, porque não acredita na lisura das urnas eletrônicas.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A ministra Damares Alves é titular da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos, e não "ministra da Cidadania", como originalmente publicado

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL