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Tales Faria

OPINIÃO

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De volta ao passado, ao lado de Collor, Bolsonaro lança campanha ameaçadora

Bolsonaro participa de evento do PL, em Brasília; o ex-presidente Collor também estava no palco - FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Bolsonaro participa de evento do PL, em Brasília; o ex-presidente Collor também estava no palco Imagem: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

27/03/2022 13h25

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O Jair Bolsonaro que havia abandonado os discursos com ameaças de golpe foi esquecido pelo presidente da República no evento de lançamento de sua pré-candidatura à reeleição pelo PL.

O evento havia deixado de ser anunciado pelo partido como lançamento da pré-candidatura depois de alertas dos juristas de que isso poderia ser constituído como campanha antecipada e, portanto, crime eleitoral.

O PL mudou o nome do evento para "Movimento filia, Brasil". Mas Bolsonaro insistiu: anunciou ontem com todas as letras, durante um passeio de moto no Distrito Federal, que ocorreria neste domingo "o lançamento da pré-candidatura".

E foi esse exatamente o espírito de seu discurso no evento. A novidade foi o aceno pelo retorno ao passado. Com o ex-presidente Fernando Collor de Mello a seu lado, Bolsonaro retomou o tom ameaçador contra os adversários de seu governo.

Disse que lhe "embrulha o estômago" jogar dentro das quatro linhas da Constituição; que em geral os golpes de estado têm à frente o Poder Executivo; que se for preciso, para defender o que entende ser a democracia, tomará "a decisão contra quem quer que seja"; e "a certeza do sucesso é que eu tenho um exército ao meu lado".

Um discurso que acenou para o passado até pela simbologia do ex-presidente Collor ao seu lado. Como se sabe o ex-presidente tinha um discurso semelhante, de luta do bem contra o mal em defesa do conservadorismo. Bolsonaro chegou a falar que prome uma guerra "do bem contra o mal".

Como se sabe, Collor acabou afastado do governo sob acusações de corrupção. Mas, antes, pediu à população que fosse às ruas em defesa de seu governo. Ao contrário, a população foi às ruas para pedir seu impeachment. E o Exército não apoiava o então presidente.

Vale lembrar que agora, ao lado de Bolsonaro no palanque, também estava o general da reserva Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Outro general, o ministro da Defesa, Braga Netto, é considerado no Planalto o mais provável candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.

A presença de militares no discurso, no palanque e nos planos do presidente é outro ponto que fez lembrar um retorno ao passado, no início da década de 1960, quando os militares estavam envolvidos até o pescoço na política brasileira. Acabaram cometendo o golpe de 1964 que perdurou durante 20 anos.

Ainda em seu discurso, Bolsonaro disse que pode até perder uma batalha, mas arrematou em tom ameaçador: "Não perderemos a guerra por falta de lutar. Vocês sabem do que estou falando". Para depois lembrar que seu governo ampliou a posse e o porte de armas de fogo pelos cidadãos.

Deixou no ar, enfim, a sensação de que vem aí para a campanha um presidente disposto a tudo para permanecer no cargo. Aliás, ele disse até que só pretende entregar o governo "bem lá na frente".