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Tales Faria

OPINIÃO

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Com remédio para calvície, viagra e cargos, Bolsonaro desmoraliza militares

Wilton Júnior/Estadão
Imagem: Wilton Júnior/Estadão

Colunista do UOL

12/04/2022 09h36Atualizada em 12/04/2022 15h55

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Nem no período final da ditadura, quando foram obrigadas a deixar o governo diante da desaprovação da opinião pública, as Forças Armadas se viram tão ridicularizadas. O presidente Jair Bolsonaro não tem conseguido sucesso na gestão da economia ou da saúde da população, mas saiu-se vitorioso na desmoralização dos militares, especialmente do generalato do país.

Vale lembrar que o capitão foi obrigado a deixar o Exército, desmoralizado pelos generais de então, sob suspeita de arquitetar atos terroristas a acusação de ter sido um mau militar, proferida pelo ex-presidente Ernesto Geisel, um general respeitado na Força.

A vingança veio a cavalo. Bolsonaro conseguiu promover um verdadeiro estrago na imagem dos militares, que vinha se refazendo nesses anos de respeito à democracia pós-ditadura.

O presidente começou a desmoralizá-los, primeiro distribuindo cargos aos milhares no governo. Mostrou que, em troca de um acréscimo no soldo, a turma poderia se comportar da mesma forma que aquele grupamento político que tanto criticavam.

Mas ao longo do governo a coisa foi piorando com notícias que mergulharam os militares no ridículo: as Forças Armadas aprovaram a compra de 35 mil unidades de viagra; além disso, o Ministério da Defesa também comprou remédio para a calvície; antes revelou-se, em plena crise do preço da carne bovina, que também havia gastado R$ 56 milhões com filé mignon e salmão.

Será difícil convencer a opinião pública de que o viagra, o remédio para calvície e o filé mignon sejam oferecidos aos soldados de baixa patente. No imaginário popular, isso deve ser coisa dos mais estrelados, tipo aqueles generais que um dia expeliram Bolsonaro da caserna.

Isso sem contar a imagem de incompetência e subserviência passada pelo general Eduardo Pazuello à frente do Ministério da Saúde e pela forma desrespeitosa com que Bolsonaro tratou seu general-vice, Hamilton Mourão, ao longo de todo o governo.

Agora o presidente anuncia que há "90% de chance" de que o vice de sua chapa seja o general Braga Neto. Usa ex-ministro da Defesa e seu, agora, subordinadíssimo assessor especial, como um símbolo ameaçador de que pode dar o golpe se perder as eleições em outubro.

Assim como o país levará anos para se recuperar do atraso econômico e sanitário dos últimos anos, os militares, especialmente os generais, levarão anos para se recuperar da impressão de que funcionam como o centrão na política: aceitam qualquer humilhação e qualquer serviço em troca de benesses.