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Tales Faria

REPORTAGEM

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Balas perdidas da guerra na República de Alagoas atingem o governo

Arthur Lira e Renan Calheiros - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados e Jefferson Rudy/Agência Senado
Arthur Lira e Renan Calheiros Imagem: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados e Jefferson Rudy/Agência Senado

Colunista do UOL

31/05/2023 17h01Atualizada em 31/05/2023 18h31

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Em reunião com auxiliares na manhã desta quarta-feira, 31, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliou que parte das dificuldades que o governo está sofrendo no Congresso é resultado de uma guerra na chamada República de Alagoas.

Segundo ele, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), transplantou para a política nacional a disputa que mantém no estado com o senador e cacique emedebista Renan Calheiros.

As brigas na chamada "República de Alagoas" ficaram famosas quando o alagoano Fernando Collor de Mello assumiu a presidência da República. Collor acaba de ser condenado pelo Supremo Tribunal federal por corrupção na Petrobras.

Renan era seu fiel escudeiro na campanha eleitoral de 1989 e tornou-se líder do governo na Câmara. Mas Collor escolheu Geraldo Bulhões como seu candidato a governador do estado, o que provocou o rompimento dos dois.

Renan, então, aliou-se a Pedro Collor, que denunciou o irmão por montar uma estrutura de corrupção no Palácio do Planalto operada pelo ex-tesoureiro de campanha Paulo Cesar Farias, o PC. As acusações deram numa CPMI que resultou no impeachment de Fernando Collor.

Embora negue publicamente, Lira fez chegar ao Planalto que não pretende trazer para o governo federal as brigas de seu estado. Mas que o governo teria menos dificuldades para aprovar projetos na Câmara se promovesse uma reforma ministerial.

A ideia seria contemplar os caciques do centrão, especialmente o União Brasil e o PP, com cargos no primeiro escalão e afastar o filho do senador, Renan Filho, do comando do Ministério dos Transportes.

Lula reconhece que serão necessárias alterações na equipe ministerial, mas não aceita promovê-las agora, como uma rendição às pressões de Lira e do centrão num momento em que o governo tem dificuldades para aprovar seus projetos.

O presidente da República também disse aos aliados que não tem intenção de afastar Renan Filho. Primeiro porque o ministro foi eleito senador. Se perdesse o cargo, voltaria ao Congresso indisposto com o Planalto. Depois porque Lula considera seu pai, Renan Calheiros, um amigo e um dos principais aliados na bancada do MDB.

Mas o presidente não afasta a hipótese de contemplar o PP de Arthur Lira e o União Brasil com nomes do agrado do presidente da Câmara.

Lula avalia também que está sofrendo "balas perdidas" do Congresso por causa da demora na liberação de verbas das emendas do orçamento. Ele planeja deixar claro a Arthur Lira que as liberações serão apressadas.

A disputa entre Lira e Calheiros tomou dimensão de uma verdadeira guerra na eleição de outubro. Como comandante do orçamento secreto, o presidente da Câmara teria despejado recursos nos redutos eleitorais dos Calheiros, mas não conseguiu transformá-los em votos.

Neste domingo, 28, durante a inauguração de uma creche na cidade de Rio Largo, a 27 km de Maceió, Renan Calheiros acusou Arthur Lira de ter utilizado dotações do orçamento secreto no estado para simular gastos e lavar dinheiro.

"Ele usou muito as prefeituras, infelizmente, para lavar dinheiro. E isso tudo precisa ser investigado e exemplarmente", disse Calheiros (veja o vídeo abaixo).

Arthur Lira já conseguiu afastar Renan Calheiros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos antidemocráticos do dia 8/1. Renan estava cotado para relator. Mas o deputado nega que tenha pedido a cabeça do ministro Renan Filho:

"Tenho agido sempre com respeito aos Poderes. A origem da desinformação segue na mesma linha daquele que tem usado as redes sociais", disse, em alusão, novamente ao senador (https://twitter.com/ArthurLira_/status/1663718493668122627?s=20).

A troca de farpas entre os dois na internet segue a todo vapor, com acusações de espancamentos familiares e ameaças de processos judiciais.

Lula, por sua vez, insistiu nessa manhã, na reunião com seus auxiliares que "é fundamental manter o governo longe das balas perdidas".