Para governo, almirantes não se solidarizarão com Almir Garnier
Se a Justiça concluir que o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos tramou por um golpe de Estado a avaliação dentro do governo é de que o almirantado não se manifestará a seu favor.
Segundo delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o almirante teria colocado as tropas da Marinha à disposição de um golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Garnier perdeu as condições para obter solidariedade dos demais almirantes desde que se negou a passar o comando da Marinha a seu sucessor.
O gesto causou constrangimento ao almirantado diante das demais forças. A negativa de passar o comando é interpretada no meio militar como um rompimento com a hierarquia, na medida em que agride o novo comandante das tropas.
Ele já não era bem visto entre seus antigos colegas de almirantado desde que, em 2021, como comandante da Marinha, decidiu realizar um desfile de tanques da Força na Praça do Três Poderes.
Garnier mandou realizar o desfile no mesmo dia da votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso na Câmara.
O objetivo era pressionar os deputados, mas o tiro acabou saindo pela culatra. O desfile improvisado resultou numa demonstração de despreparo com tanques velhos soltando fumaça que acabaram causando vergonha à Marinha. E a PEC acabou rejeitada.
Não é à toa que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro declarou, após o vazamento da delação de Mauro Cid, que sabia das inclinações golpistas do almirante. Múcio lembrou até que o militar se negou a encontrá-lo.
"Sabia [das inclinações golpistas], mas ele passou. Olha, ele não me recebeu para conversar. Depois, nós nos encontramos, eu conversei", afirmou o ministro.
Múcio fez questão de deixar claro que considera que o almirante agiu como um fora da lei: "Havia um presidente eleito, havia um presidente empossado, a Justiça promulgou, de maneira que nós estávamos 100% do lado da lei, e ele não."
Segundo Múcio, os militares esperam as apurações da Justiça sobre envolvimentos individuais nas articulações golpistas para, então, tomar suas decisões caso a caso. Uma coisa é certa: quanto a Garnier, não há disposição na tropa, no momento, para se solidarizar com o ex-comandante, caso a Justiça decida puni-lo.
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