Thais Bilenky

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Chiquinho Brazão usou verba pública para reverter noticiário negativo

Preso acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) usou recursos públicos para tentar melhorar sua imagem no noticiário da região onde pedia votos.

Na véspera de sua prisão e de seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão, no sábado, 23 de março, o deputado fez uma publicação em rede social dizendo ser "realmente gratificante ver o reconhecimento do nosso trabalho e o impacto positivo que podem ter na vida das pessoas".

Para ilustrar sua mensagem publicou imagem de uma nota veiculada por "O Amarelinho", um jornal de classificados de empregos sediado no Rio de Janeiro. A nota informava que Brazão apresentou projeto de lei propondo dedução de gastos veterinários do Imposto de Renda.

"O Amarelinho" recebeu R$ 70 mil da cota parlamentar a que tem direito o deputado em seu primeiro mandato, de 2019 a 2022. No segundo mandato, em pouco mais de um ano, já foram mais R$ 15 mil.

A relação com veículos locais de seu reduto eleitoral nem sempre é tão azeitada assim. O caso do jornal "Cabo Frio em Foco" é um exemplo mais tumultuado.

No dia 14 de junho de 2023, saiu no veículo que cobre a Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, uma reportagem repercutindo uma notícia de Estado de S.Paulo. O título era "Chiquinho Brazão e irmão gastam R$ 400 mil em posto de sócio para abastecer veículos com dinheiro público".

A nota informa que o deputado passa por sete postos de combustível do seu escritório no Rio até chegar ao estabelecimento do sócio. Um dos postos fica a um minuto do escritório, mas ele mesmo assim roda oito quilômetros para chegar no ponto escolhido.

Em duas semanas, em julho de 2023, Chiquinho Brazão desembolsou R$ 2.500 da cota parlamentar para o "Cabo Frio em Foco". Poucos dias depois, saiu uma nota no site dizendo que o deputado assumiu a presidência da Subcomissão Especial da Reforma Tributária para impulsionar a economia e beneficiar a população, sobretudo os mais pobres.

Em agosto, repetiu a dose — mais R$ 2.500 reais para o veículo — e aí vieram mais três notas positivas em sequência, como uma a qual informava que Chiquinho Brazão prestigiou a inauguração da Orla Oscar Niemeyer em Araruama.

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Com o avanço das investigações sobre Marielle, contudo, o noticiário ficou negativo outra vez.

Em 24 de janeiro de 2024, o "Cabo Frio em Foco" noticiou que Ronnie Lessa delatou Domingos Brazão como mandante do assassinato de Marielle Franco.

Em 27 de janeiro, outra notícia ruim: "Afastado do TCE por corrupção, Domingos Brazão ganha direito a 360 dias de férias em dinheiro no Tribunal"

Dias depois, em fevereiro, novo repasse de R$ 2.500 na conta do "Cabo Frio em Foco" e em seguida saiu uma nota boa no site: "Deputado Chiquinho Brazão apresenta Projeto de Lei para dedução de gastos veterinários do Imposto de Renda".

Era a mesma informação que saiu em "O Amarelinho" e ele esbanjou em rede social.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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