Thais Bilenky

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'Vitória' de Lewandowski contra crime contrasta com vitimismo bolsonarista

O anúncio da recaptura dos dois criminosos que fugiram da penitenciária de segurança máxima de Mossoró evidenciou o contraste na abordagem da segurança pública pelo governo Lula e pelo bolsonarismo. O discurso lulista garante que o Estado vencerá o crime, enquanto o bolsonarismo se coloca como justiceiro no combate à bandidagem que já dominou o país.

Nesta quarta-feira, 4 de abril de 2024, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, fez um pronunciamento com vocabulário rebuscado em que reconheceu a necessidade de ajustes na estratégia das polícias, depois de 50 dias de buscas. Comemorou não ter havido mortos ou feridos na operação que resultou na prisão de 14 pessoas. E relativizou os riscos que a fuga ofereceu à sociedade.

"O envio de cem integrantes da Força Nacional se deveu também para dar segurança à população local", justificou Lewandowski. "Dois criminosos de alta periculosidade estavam em tese ameaçando a população local."

Diferente foi o anúncio de captura de criminoso feito pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, expressão mais visível do bolsonarismo na operação mais polêmica das polícias paulistas sob sua gestão.

Em meados de 2023, Tarcísio convocou a imprensa para informar que o homem que disparou e matou um soldado da Polícia Militar na Baixada Santista tinha sido preso, no ato que deflagrou a letal Operação Escudo. Mas, ao contrário de Lewandowski, Tarcísio realçou o perigo permanente ao qual a população está submetida.

"É um primeiro passo", disse, na ocasião. "A gente sabe o quanto a criminalidade tem assolado os moradores da Baixada Santista e vamos aumentar o efetivo [da PM] lá."

Lewandowski assegurou que o Estado brasileiro prevalece sobre o crime, e Tarcísio apostou em linha oposta, atribuindo sucesso aos criminosos.

Vitória do Estado brasileiro, das forças de segurança do Brasil. E que demonstra que o crime organizado no nosso país não será bem-sucedido.
Ricardo Lewandowski, ministro de Lula

Foi uma operação contra o tráfico de drogas, que infelizmente tomou conta da baixada santista.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo bolsonarista

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As diferenças também ficaram claras na forma de tratar o trabalho das polícias e na admissão de que determinadas decisões não tiveram sucesso.

"Mudamos de estratégia quando soubemos que [os dois fugitivos] não estavam mais nas proximidades da penitenciária de Mossoró", informou Lewandowski. "A mudança saiu da busca física, por assim dizer, e trabalhar a partir da inteligência, do inquérito aberto pela Polícia Federal de Mossoró."

Tarcísio, por sua vez, quando questionado sobre as mortes decorrentes da ação policial — que eram 8 naquele momento, mas chegariam a 28 em 40 dias — não titubeou em defender o trabalho da PM sem admitir problemas.

"Não houve hostilidade, não houve excesso. Houve atuação profissional e vamos continuar com a operação", disse o governador.

A hipervalorização do confronto é outra característica do bolsonarismo ausente no lulismo.

Tarcísio justificou as oito mortes decorrentes da ação policial. "Ninguém quer o confronto. Agora, a partir do momento em que a polícia é hostilizada, a partir do momento em que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto", disse o governador.

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Em seu pronunciamento, Lewandowski nem sequer relatou que os criminosos apontaram armas para os policiais durante a recaptura. A informação só foi dada pelo diretor-geral da Polícia Federal num segundo momento da entrevista.

"Um criminoso apontou o fuzil para os policiais, mas, frente à ação das nossas equipes, não houve reação", afirmou Andrei Rodrigues, chefe da PF.

Lewandowski, ao contrário, atribuiu sucesso à operação justamente porque não houve confronto.

"O que me parece também relevante dizer é que foi uma operação extremamente bem sucedida porque não foi disparado um tiro, não houve feridos, não houve mortos, seja da parte da polícia, seja da parte dos criminosos ou da população. Um trabalho puramente de inteligência", classificou.

No discurso de Tarcísio ficou claro o esforço para tornar a categoria policial heroína da sociedade atingida pela violência.

"Estou extremamente satisfeito com a ação da polícia e extremamente triste com o que aconteceu porque nada vai trazer um pai de família de volta, um pai pro filho pequeno de volta. Quem esteve no enterro sabe do que eu estou falando", discursou. "Alguém que estava procurando fazer o melhor, estava se doando e tombou em serviço pela ação de um criminoso e isso não pode passar em branco."

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A linha de Lewandowski foi impessoal, falou das "missões constitucionais das forças de segurança competentes" e usou palavras como evadir, coadjuvar e circunvizinho.

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