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Thaís Oyama

Bolsonaro repete 2018 na busca por um partido para chamar de seu

Colunista do UOL

17/08/2020 20h23

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Em sua busca por um partido que lhe permita concorrer à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro repete a coreografia que protagonizou na campanha que o elegeu.

Em 2017, Jair Bolsonaro já era um nome em ascensão. Havia anunciado que deixaria o PSC, ao qual se filiara havia um ano só, e começava a namorar o hoje extinto PEN, uma pequena e irrelevante sigla com três deputados.

Para ter Bolsonaro no PEN, seu presidente, Adilson Barroso, aceitou mudar o estatuto, o programa de governo e até o nome do partido - que foi rebatizado de Patriotas, já que o "Ecológico" desagradava o ex-capitão.

No dia da cerimônia em que Barroso anunciaria a filiação de sua nova estrela, com direito a coquetel e festa transmitida em live, Bolsonaro roeu a corda.

Em discurso para a plateia perplexa, o pré-candidato disse que o "casamento" com o PEN só poderia se concretizar depois que o partido retirasse uma ação de inconstitucionalidade na Justiça que poderia prejudicar a Lava Jato (era o tempo em que Bolsonaro hasteava a bandeira da luta contra a corrupção).

Adilson Barroso nunca engoliu a traição. Chegou a apelar para que Bolsonaro reconsiderasse sua decisão dizendo que, "depois de ter estuprado o PEN", o mínimo que o ex-capitão deveria fazer era "casar com o Patriota, a que ele deu o nome".

Bolsonaro passou, então, a flertar com o PR, o Partido da República (atual PL, Partido Liberal). O problema desta vez era que o manda-chuva da sigla, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, havia sido condenado no escândalo do mensalão por corrupção (era uma época em que Bolsonaro considerava isso um problema).

Para tirar o empecilho do caminho, lideranças da sigla costuraram um acordo segundo o qual Costa Neto pediria uma licença do partido, de modo que o Capitão Augusto, companheiro de Bolsonaro na bancada da bala, assumiria o seu lugar, resguardando a imagem do colega de Congresso.

Bolsonaro chegou a apertar a mão do senador Jorge Mello, encarregado pelo PR de formalizar a proposta.

Quando mesmo os amigos mais próximos do ex-capitão achavam que o assunto estava encerrado, eis que Bolsonaro anuncia sua filiação a um terceiro partido, o PSL -com o qual romperia de forma estrepitosa no ano seguinte, já eleito presidente da República.

O que aconteceu a seguir foi uma tentativa da família Bolsonaro de criar "a sigla perfeita", a sigla do clã — a Aliança pelo Brasil. Tudo indica que ela fracassou miseravelmente.

Depois de mais de oito meses de trabalho, o Aliança não conseguiu validar no Tribunal Superior Eleitoral nem 4% do número de assinaturas exigidas por lei para colocar um partido de pé.

Agora, Bolsonaro diz que está "entre três siglas" e ensaia um retorno para o PSL, tal e qual um marido arrependido que tenta refazer um casamento implodido em meio a baixarias e sopapos.

Não será uma tarefa fácil. Desde que entrou para a política, o ex-capitão mudou nove vezes de casa e nunca perdeu a chance de mostrar que não acredita em partidos. Ao menos a recíproca é verdadeira. Os partidos tampouco confiam nele. E têm motivos de sobra para isso.