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Thaís Oyama

Damares Alves é o trunfo de Bolsonaro para 2022

A ministra Damares Alves: na narrativa da luta do "bem contra o mal", ela está na linha de frente - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
A ministra Damares Alves: na narrativa da luta do "bem contra o mal", ela está na linha de frente Imagem: GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

28/08/2020 10h04

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A ministra Damares Alves foi a estrela da live "ancorada" ontem pelo presidente Jair Bolsonaro.

Convidada pelo chefe a explicar ao público o que faz "o mais espetacular ministério, que era um sonho da família brasileira" — definição que ela mesma usou para apresentar sua pasta— Damares disse que a "espinha dorsal" do Mulher, Família e Direitos Humanos é "a defesa da vida desde a concepção e direitos humanos para todos".

Em seguida, ouviu de Bolsonaro:

"Damares, tem uma coisa que a gente não consegue nem acreditar. Estupro de bebês? Como é que é esse negócio aí?"

Ao que ela respondeu que, sim, era verdade.

"Há registros de estupros de bebês de sete dias", afirmou. "Isso estourou no Brasil".

Mais, revelou a ministra:

"Já é possível pagar para assistir o estupro de crianças no Brasil online"

Damares, que é advogada e pastora evangélica, é a ministra com melhor aprovação popular do governo. Tem o respeito dos generais do Palácio do Planalto e é querida por Michelle Bolsonaro —a primeira-dama, evangélica como ela, foi uma das responsáveis pela sua indicação ao ministério.

Mas, para além desses trunfos, Damares Alves tem nas mãos algo muito valioso para Bolsonaro.

Depois da demissão de Abraham Weintraub (Educação) e do enfraquecimento de Ricardo Salles (Meio Ambiente), a ministra passou a praticamente deter o monopólio da pauta de costumes. Ernesto Araújo (Relações Exteriores) ainda mantém sua cota, mas nada se compara ao domínio de Damares na matéria -uma das mais importantes plataformas de lançamento para a reeleição do presidente.

Na campanha de 2018, os motores de propulsão de Bolsonaro incluíram o anti-petismo, as promessas de combater a corrupção, varrer a "velha política" da face da terra e manter a responsabilidade fiscal com a política liberal de Paulo Guedes. O terror da "volta do PT" se esvaiu com a própria vitória do ex-capitão.

As bandeiras do combate à corrupção e à velha política foram largadas ao chão desde que Bolsonaro divorciou-se de Sérgio Moro e se casou com o Centrão.

Quanto à austeridade fiscal, esta parece estar na mesma situação que Paulo Guedes, mais pra lá do que prá cá.

Da época das promessas de campanha, restou, portanto, apenas a pauta de costumes, feita do combate ao aborto, ao ateísmo, ao socialismo, ao sexo e à "doutrinação" nas escolas.

Até agora, o governo fracassou em fazer essa agenda avançar. O projeto da Escola sem Partido é exemplo disso - tanto não saiu do lugar que seu mentor, o procurador da República Miguel Nabig, já pediu o chapéu.

O governo conta com a ajuda dos novos aliados do Centrão para tirar o atraso na pauta ideológica, o que tentará fazer a partir do começo do ano que vem.

Quer plantar em 2021 para colher em 2022.

Isso porque, se a guerra da campanha presidencial se dará no terreno da economia, o bolsonarismo tentará trazê-la para o campo dos costumes. E na narrativa da luta do "bem contra o mal", ele já escolheu a sua arauta.