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Thaís Oyama

Se o populismo veio para ficar, Bolsonaro também ficará?

Colunista do UOL

31/08/2020 11h01

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Não sendo uma flor do pântano, daquelas que só desabrocham à sombra de ditaduras, o nacional populismo encontrou um lugar ao sol mesmo nas democracias liberais consolidadas.

Seu maior apelo é o de oferecer abrigo a grupos que se sentem deixados para trás - e o que não falta ultimamente é gente com essa sensação.

Por essas e outras, o nacional populismo veio para ficar.

Essa é a notícia que trazem os britânicos Roger Eatwell e Matthew Goodwin no recém-publicado no Brasil "Nacional-populismo: A revolta contra a democracia liberal".

A ideologia - que atrai de americanos sem diploma temerosos da concorrência dos imigrantes a britânicos nostálgicos dos tempos em que "tinham um país", além de húngaros receosos da "invasão" dos refugiados muçulmanos e brasileiros inconformados, por exemplo, com as consequências do avanço das pautas LGBTQ+ sobre as suas famílias - não começou a ser gestada ontem.

Os autores lembram que Donald Trump e o Brexit, por exemplo, surgiram bem depois da ascensão na Europa de lideranças como Marine Le Pen na França, Matteo Salvini na Itália e Viktor Orban na Hungria.

Populistas também falam para os jovens

E assim como não nasceu ontem, o nacional populismo deverá permanecer em cartaz por muitos anos mais do que desejam seus opositores.

Para Eatwell e Goodwin, erra quem considera que a emergência de líderes populistas no mundo é coisa passageira ou —como ironicamente descrevem— "o último grito de raiva de velhos brancos que logo serão substituídos por tolerantes milennials, que, segundo dizem, sentem-se muito mais à vontade com a imigração, refugiados, mudança étnica e fronteiras abertas".

O nacional populismo tende a se consolidar como um fenômeno de longo prazo porque, além de serem igualmente de longo prazo as razões que deram origem a ele, seus líderes estão se comunicando com um número crescente de pessoas JOVENS que também se sentem deixadas para trás.

No Brasil, a última pesquisa Datafolha mostrou que um dos grupos em que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro mais cresceu foi entre as pessoas de 35 a 44 anos.

Nessa faixa etária — que compreende brasileiros com muitas eleições pela frente— a aprovação do ex-capitão subiu 15 pontos percentuais no período de um ano (foi de 30% para 45%).

Razões que impulsionam o populismo devem ser analisadas

Essa melhora na avaliação do presidente só perde para o aumento da sua aprovação entre os desempregados (18% para 36%), a maioria beneficiária do auxílio emergencial.

Outro argumento a reforçar a tese dos britânicos de que o mundo não se livrará tão cedo do nacional populismo é de que ele independe dos atores hoje em cena. Analisá-lo à luz do caráter e dos defeitos de Donald Trump, para ficar no mais proeminente dos seus personagens, não ajuda a enxergar as raízes do fenômeno.

A chave da questão não está nos líderes populistas, mas nas razões da revolta que os alçaram ao poder. E estas, até o momento, têm sido solenemente desprezadas por quem deseja varrer do mapa nomes como o de Jair Bolsonaro.