O último desserviço de Bolsonaro à nação
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
As vacinas são velhas vítimas da calúnia e da difamação.
A Lancet, publicação científica britânica cujo nome vem sempre acompanhado do epíteto "uma das mais conceituadas do mundo", tem boa parte da responsabilidade nisso. Foi nela que um mal-intencionado cientista publicou em 1998 um falso estudo sugerindo a existência de uma relação entre a vacina contra o sarampo e a ocorrência de autismo em crianças.
Pela trapaça (descobriu-se mais tarde que o pesquisador havia entrado com um pedido de patente para uma vacina que concorreria com aquela que ele havia atacado), a Lancet se retratou e Andrew Wakefield, o cientista trapaceiro, perdeu o direito de exercer a medicina.
Mas tudo isso levou anos e deixou sequelas — a reputação das vacinas nunca mais foi a mesma. Volta e meia uma delas acaba engolfada por uma nova onda de fake news.
No Brasil, o fenômeno parecia não ter pegado.
No mês passado, o Datafolha mostrou que nove entre cada dez brasileiros pretendiam tomar a vacina contra a covid-19 tão logo ela fosse aprovada. Só 9% disseram que não fariam isso.
Já nos Estados Unidos, pesquisa feita em junho pelo Washington Post, em conjunto com a rede de TV ABC, mostrou resultado diferente. Apenas sete em cada dez americanos responderam que usariam a vacina e 27% disseram que "provavelmente não" ou "definitivamente não" a usariam.
Comparando as pesquisas, é possível também concluir que o grau de "ideologização" da vacina anti-covid-19 é maior entre americanos do que brasileiros.
Nos Estados Unidos, oito em cada dez eleitores do Partido Democrata disseram que se vacinariam. Já entre os partidários do republicano Donald Trump, a relação cai para seis em cada dez.
Aqui, o Datafolha apenas aferiu que 11% dos que aprovam o governo Bolsonaro não tomariam a vacina, contra 9% do total de entrevistados que declararam o mesmo - o que não chega a indicar uma clivagem ideológica.
Em suma, o Brasil parecia até agora relativamente imune à politização da vacina do coronavírus.
Isso, claro, até a manifestação de segunda-feira do presidente, reiterada no dia seguinte por um tuíte da sua Secretaria de Comunicação, de que "ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina".
Bolsonaro "cloroquinizou" a imunização ao coronavírus antes mesmo de ela estar pronta. Mais um inigualável desserviço que o presidente presta à nação.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.