A ofensiva patriótica de Bolsonaro
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Quando era deputado federal, Jair Bolsonaro gostava de assistir à cerimônia de hasteamento da bandeira na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ia debaixo de chuva, debaixo de sol, sozinho ou com o filho Eduardo Bolsonaro, seu vizinho de gabinete na Câmara dos Deputados.
É dessa época a sua proposta de projeto de lei, nunca apreciada, que instaurava a obrigatoriedade de civis cantarem o Hino Nacional com a mão no peito.
Jair Bolsonaro sempre se definiu como um patriota.
Mesmo assim, chama a atenção a ofensiva nacionalista perpetrada por seu governo nos últimos dias.
Na semana passada, o secretário de Cultura, Mario Frias, divulgou um vídeo por ele estrelado —e, desconfia-se, com texto de sua própria lavra— em que enaltecia o "povo heroico" do Brasil. O filme tinha fundo musical solene e mostrava Frias solenemente afundado em uma poltrona de veludo vermelho, lendo o teleprompter com pausas dramáticas. O material viralizou na internet, embora não por seus propósitos originais.
No dia seguinte, o presidente Bolsonaro, ao falar sobre a incidência da inflação sobre os alimentos, disse ter pedido a donos de supermercados que diminuíssem sua margem de lucro num gesto de "sacrifício" — em nome do "patriotismo".
Por fim, ontem, dia da comemoração da Independência do Brasil, a ministra Damares Alves entrou em campo. Em vídeo publicado nas redes sociais, a titular da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos pediu à população que pendurasse a bandeira nacional em suas janelas. "Assim a gente começa a desenvolver uma cultura verde e amarela no Brasil. Vista-se de verde e amarelo e demonstre para todo mundo o amor que você tem pelo nosso país", conclamou Damares.
O nacionalismo não apenas é parte de qualquer nação constituída, mas um de seus pilares também.
A ideia de que há elementos comuns a unir uma população serve para lhe conferir senso de unidade e estimular o desejo de cooperação entre as pessoas - ou de abnegação, já que estar no mesmo barco muitas vezes implica sacrifícios.
Mas, elevado a outra potência, o nacionalismo pode ser um eficiente instrumento para governos de tendência nacional populista desejosos de estimular a coesão da SUA turma.
Pelo visto, algum luminar do marketing político do Planalto se lembrou disso. E achou que teve uma ideia genial: ao definir quem são os "heróis nacionais" a serem cultuados e se apropriar dos augustos símbolos da pátria, o bolsonarismo estará dizendo que ele não representa apenas uma parte do país, mas é a própria nação.
A julgar pela repercussão do vídeo, porém, bem como das mensagens do presidente e da ministra, o governo terá de refinar um pouco mais seus argumentos verde-amarelistas para tirar alguma vantagem deles.
Mesmo o apelo nacionalista exige alguma sofisticação.
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