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Thaís Oyama

Damares x Netflix: "combate à pedofilia" é o novo kit gay de Bolsonaro

Cartaz do filme "Cuties", que Damares quer tirar do ar por "incitar à pedofilia" - Reprodução / Netflix
Cartaz do filme 'Cuties', que Damares quer tirar do ar por "incitar à pedofilia" Imagem: Reprodução / Netflix

Colunista do UOL

15/09/2020 10h07

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"Querem, na escola, transformar seu filho de 6 a 8 anos em homossexual".

A frase ilustrava a capa de um panfleto que o deputado Jair Bolsonaro distribuiu pessoalmente nas escolas do Rio de Janeiro em 2011 para "denunciar" a suposta distribuição, pelo governo petista, do que ficou conhecido como "kit gay".

Naquela época, Bolsonaro pertencia à chamada cota folclórica do Congresso. Tinha mudado de partido seis vezes e aprovado apenas dois projetos em 27 anos de carreira parlamentar. Tendo concorrido naquele ano pela segunda vez à presidência da Câmara, ficou em último lugar, com nove votos.

O livro infantil que provocou a ira do ex-capitão, "Aparelho Sexual e Cia", nunca chegou a ser adotado pelo governo nem distribuído nas escolas. Mas a ideia do "kit gay" serviu para projetar o nome de Bolsonaro no Brasil.

Em 2018, durante a sua campanha à Presidência da República, Bolsonaro tentou ressuscitar a polêmica que o levara para a ribalta, mas foi impedido pelo TSE. A história do kit gay, decidiu o tribunal, representava "difusão de informação equivocada".

Agora, de novo em campanha, Bolsonaro tratou de arrumar outro assunto.

"Damares, tem gente falando que essa história de pedofilia é papo furado da direita", disse o presidente à ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos na sua última live.

Damares balançou a cabeça com vontade.

"Há pedofilia de verdade no Brasil, presidente."

E foi além a ministra: o crime "estourou no Brasil", essa explosão inclui estupros de "bebês de sete dias" e "já é possível pagar para assistir o estupro de crianças no Brasil online".

Ontem, Damares Alves, atualmente a ministra mais popular do governo, anunciou que pedirá a proibição do filme "Cuties", em cartaz na Netflix, sob a alegação de que ele estimula a erotização precoce das crianças e, claro, o crime da pedofilia.

Com a iniciativa, o governo conta em acordar seus inimigos diletos — PT, PSOL e companhia. Sabe que a oposição, esquecendo por alguns momentos o próprio furor cancelatório, irá atacar a tentativa de censura. Assim, Damares e o governo poderão "mostrar" mais uma vez que "a esquerda defende a pedofilia".

"Quero dar um recado aos pedófilos que por anos têm vindo ao Brasil abusar de nossas crianças: no Brasil existe um Governo que se importa de verdade em proteger as crianças e as famílias", escreveu a ministra Damares no Twitter.

A guerra do bolsonarismo é a guerra de costumes.

E, para combatê-la, Bolsonaro irá se armar até os dentes.