Bolsonaro não quer um novo ministro do STF, quer um compadre
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Jair Bolsonaro escreveu que o desembargador Kassio Marques está "100% alinhado" com ele. O presidente ficou aborrecido com as críticas que tem recebido de apoiadores pela escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal e, por isso, passou o domingo batendo boca com eles nas redes sociais.
Para provar que está todo mundo errado e que o seu preferido não tem inclinações petistas como se diz por aí, o presidente esclareceu aos mal informados que acertou tudinho com Marques antes de indicá-lo para o cargo.
"Cantou" o voto do futuro magistrado na ação contra a descriminalização do aborto (ele será contra) e esfregou na cara de quem achou que ele era bobo que Marques "é CAC" (colecionador de armas, atirador e caçador), além de defensor da família e das pautas econômicas (do governo). Para terminar, desafiou os incrédulos: "Quem duvida que aguarde as votações".
Afastada a hipótese de Bolsonaro ter escrito o que escreveu com a intenção de matar de constrangimento o desembargador Marques, resta a alternativa de que os conceitos rudimentares do presidente sobre democracia são insuficientes para que ele compreenda os princípios basilares da convivência republicana.
Tanto as origens políticas de Bolsonaro quanto comportamentos seus recentes mostram que a segunda alternativa é plausível.
Nas brumas do baixo clero, de onde veio o ex-capitão, não circulam malas de dinheiro sujo, até porque seus habitantes são destituídos do tipo de influência que interessa aos corruptos.
Nomeia meu primo que eu nomeio a sua cunhada
Em compensação, campeiam as "trocas de favores", tanto na categoria "de parlamentar para parlamentar" ("você nomeia meu primo no seu gabinete que eu nomeio sua cunhada no meu"), quanto do tipo "de parlamentar para funcionário" ("eu te arrumo uma boquinha no meu pedaço mas você me dá metade do seu salário").
No subsolo do poder parlamentar, uma mão lava a outra.
"Vou nomear (para o STF) quem toma cerveja comigo no fim de semana", já tinha avisado o presidente. Não era exatamente uma novidade.
Em abril, indignado com uma apoiadora que o criticou na internet por querer indicar para a diretoria da Polícia Federal um amigo de seus filhos, o presidente respondeu: "E daí? (...) Devo escolher alguém amigo de quem?".
Pelo mesmo critério — "é amigo meu ou amigo de quem eu confio" — Bolsonaro escolheu para chefiar a Procuradoria-Geral da República o inconstrangível Augusto Aras, amigo do seu grande amigo Alberto Fraga, e "que vem se portando de maneira excepcional" no cargo, como fez questão de dizer o presidente recentemente.
Bolsonaro tem interesses políticos e familiares no STF. Bolsonaro tem o direito constitucional de indicar um ministro do STF. Bolsonaro vai colocar lá um amigo de quem?
O presidente não traiu ninguém, como acusa parte de seus apoiadores. Ele continua 100% alinhado com o que sempre foi.
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