Medo de ser trucidado por boato do "fim do SUS" fez governo anular decreto
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O governo Bolsonaro pode não saber por que resolveu baixar o decreto do SUS, da pior forma possível e no meio de uma pandemia, mas sabe muito bem por que decidiu suspendê-lo.
A proposta — mal escrita, mal veiculada e mal compreendida—se limitava a autorizar o início de um debate sobre a participação da iniciativa privada na construção de postos de saúde e sua operação.
O gerenciamento de unidades básicas de saúde por hospitais e organizações sociais privadas não é nenhuma novidade no país. Em São Paulo, o modelo funciona há mais de quinze anos por meio da parceria entre a Fundação Albert Einstein e a prefeitura. Em Salvador, o petista Jaques Wagner foi um dos primeiros governadores a entregar a gestão de um hospital estadual a um consórcio privado.
Mesmo assim, por ignorância ou má-fé, fez-se do decreto um escarcéu.
"Bolsonaro quer privatizar o SUS", gritaram as redes sociais.
"O desmonte do SUS condenará à morte milhares de brasileiros que não podem pagar por um serviço privado", bradou a deputada Maria do Rosário (a parlamentar petista apresentou um projeto de decreto legislativo que suspende o decreto do governo — em outras palavras, Maria do Rosário propõe que todo mundo fique proibido de discutir o assunto).
Em 2014, na etapa final da campanha em que Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) disputaram a Presidência da República cabeça a cabeça, petistas espalharam nas redes a falsa notícia de que o tucano, se ganhasse, acabaria com o Bolsa Família.
Com a ajuda de disparos massivos pelo Whatsapp, a mentira se espalhou como rastilho de pólvora pelos telefones celulares. Em cidades do interior do Nordeste, kombis circulavam com megafones abertos "alertando" a população para a iminência do desastre.
A campanha petista provocou queimaduras de terceiro grau na candidatura tucana.
Ontem, a reação ao "decreto do SUS" e, sobretudo a investida de partidos da oposição no assunto, fizeram o governo sentir cheiro de queimado.
Assessores acionaram a sirene de alerta máximo no Planalto: o boato disseminado por opositores do governo teria potencial destrutivo para Bolsonaro, sobretudo entre as classes D e E, hoje o esteio do presidente candidato à reeleição.
O governo Bolsonaro já deu abundantes mostras da falta de pruridos em manipular informações e torcer verdades até que elas fiquem ao seu gosto.
Com o episódio do SUS, a oposição lembra que há muito conhece a tática.
O ex-capitão não inventou nada.
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