Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Doria frustra o grande sonho de Bolsonaro: anunciar a "vacina brasileira"
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O Brasil acordou nesta sexta-feira com uma ótima notícia.
O Instituto Butantan desenvolveu uma vacina totalmente nacional, pronta para ser testada com seres humanos a partir de uma autorização da Anvisa a ser solicitada hoje. De acordo com informações do instituto, se os testes correrem bem, seus laboratórios poderão produzir até o final do ano 40 milhões de doses da nova vacina, que deverá ter custo inferior aos outros imunizantes, dado que dispensa importações, inclusive de insumo.
Nem todo mundo comemorou a boa nova.
No entorno de Jair Bolsonaro, era de conhecimento geral que o maior sonho do presidente nos últimos tempos era anunciar ele próprio a "vacina brasileira".
A viagem a Israel, feita no início deste mês por uma comitiva governamental encabeçada pelo ainda ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tinha como um dos objetivos pedir ao primeiro-ministro daquele país, Benjamin Netanyahu, ajuda para desenvolver o imunizante no Brasil.
Mas a grande esperança de Bolsonaro repousava nas mãos do astronauta Marcos Pontes. O ministro da Ciência e Tecnologia apostava numa pesquisa, ainda incipiente, de uma vacina contra o coronavírus a ser produzida em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais.
Para fazer andar os trabalhos, porém, Pontes reclamava que precisava da liberação de 390 milhões de reais. Ontem, o ministro finalmente conseguiu ter 300 milhões de reais incluídos, para esse fim, na previsão de Orçamento aprovada pelo Congresso.
O dinheiro, porém, saiu tarde demais - ou, pelo menos, não antes de João Doria, governador de São Paulo e arquiinimigo de Bolsonaro, anunciar a Butanvac, como foi batizada a vacina a ser produzida pelo instituto que, desde a sua fundação, é ligado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, do Governo do Estado de São Paulo.
A Butanvac pegou o Palácio do Planalto totalmente de surpresa.
E desmanchou o sonho nacionalista de Bolsonaro, que planejava não apenas produzir uma vacina com as cores nacionais como exportá-la pelo continente.
Mas o presidente tem outros motivos para azedar o seu dia.
A constatação de que Doria passou a perna nele coincide com a divulgação de uma pesquisa Exame/Ideia com notícias nada boas para o governo.
O levantamento, feito entre os dias 22 e 24 de março, com 1 255 pessoas, revela que: 77% da população julgam que a vacinação contra a covid-19 no Brasil está atrasada; 90% acreditam que o sistema de saúde está em colapso; e 71% querem a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a conduta de gestores públicos na pandemia — a CPI da Covid-19, que o governo federal quer a todo custo evitar.
A pandemia, e sobretudo a sua gestão pelo governo, está enfurecendo os brasileiros.
Mas é certo que um, em particular, terá hoje um péssimo dia.
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