Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Com live, Bolsonaro quis motivar militância desanimada com Centrão
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Jair Bolsonaro já superou muitas expectativas, e sempre para pior.
A live de ontem — em forma, conteúdo e acabamento — lembrou um daqueles documentários de baixo orçamento em que entrevistados com desequilíbrios psíquicos relatam em dublagem descompassada suas experiências de abdução por extraterrestres.
Bolsonaro, o presidente da República do Brasil, foi o protagonista do triste show, encenado dentro da biblioteca do Palácio da Alvorada e tendo por claque uma dúzia de assessores e três ministros de Estado, sendo dois generais de quatro estrelas.
A precariedade do espetáculo e a ausência das prometidas provas que mostrariam a ocorrência de fraudes nas eleições passadas constrangeram até a plateia do Palácio (o general Augusto Heleno ficou boa parte do tempo com os olhos baixos, voltados para a tela do seu celular), mas o alvo do discurso presidencial era outro.
A dois dias da manifestação de apoio ao governo marcada para domingo, Bolsonaro pretendeu sacudir sua militância, parte dela envergonhada e sem munição para responder à recente rendição do Mito à "velha política".
Foi para esse público que o presidente desfiou 2 horas e 49 minutos de propaganda das virtudes de seu governo, balbuciou muxoxos de autocomiseração pelo massacre do "sistema" e apresentou mentiras deslavadas sobre o funcionamento das urnas eletrônicas.
O presidente pode padecer de falta de decoro intelectual — ou, em outras palavras, ser bronco e obtuso — mas tem instinto de oportunidade e sabe que o discurso falacioso da "luta por eleições limpas" pode ser a boia de salvação para bolsonaristas que se sentiram largados ao mar com a nomeação do líder do Centrão, Ciro Nogueira, para o coração do governo.
Monitoramento da AP Exata mostra que, uma hora depois do início da live de ontem, as menções positivas ao presidente nas redes sociais caíram 4 pontos —de 37% para 33%. Na manhã de hoje, porém, Bolsonaro já havia retomado seus índices, com menções positivas atingindo 40%. Segundo a consultoria, essa recuperação contou com uma forte ação na madrugada de "perfis de interferência", ou robôs. A hashtag mais disseminada no momento conclama apoiadores para a manifestação de domingo ( #dia01VaiSerGigante).
Bolsonaro precisa dar uma demonstração de força e animar seu combalido auditório. Sabe que, sem ele, dificilmente conseguirá se equilibrar no patamar dos 20% de aprovação em que se encontra hoje, e dos quais depende para chegar ao segundo turno.
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