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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ao difamar as urnas, Bolsonaro plantou a dúvida para colher a tempestade

Tanques na Esplanada e lives incendiárias: Bolsonaro solta a sua fumaça - Adriano Machado/Reuters
Tanques na Esplanada e lives incendiárias: Bolsonaro solta a sua fumaça Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

12/08/2021 11h18

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Na Câmara dos Deputados, a falácia não colou.

Mas o fato é que Jair Bolsonaro conseguiu convencer muitos brasileiros de que as urnas eletrônicas são passíveis de fraude —ainda que não haja nenhum caso comprovado disso.

Monitoramento da consultoria AP Exata mostrou que, nas redes sociais, a mobilização do presidente — que nos últimos dias incluiu lives incendiárias, difusão de fake news e até um desfile de tanques de guerra da Marinha na Esplanada— resultou no reagrupamento dos seus apoiadores na internet.

A militância bolsonarista, que vinha se mostrando dispersa — pautada por temas difusos e antigos, como "o perigo comunista", a "ameaça chinesa" e a "invasão LGBTQIA+"— voltou a se unir em torno de um único tema, diz a consultoria. Com o ataque ao sistema de votação eleitoral, Bolsonaro deu aos seus seguidores uma bandeira.

Às vésperas da votação da PEC do voto impresso na Câmara, praticamente não se via mobilização nas redes da parte da oposição — acomodada na certeza de que o projeto não passaria, como de fato não passou. Enquanto isso, a militância digital bolsonarista se empenhou em ganhar a opinião pública, sem pudores de recorrer às fake news de sempre.

Os dados da AP Exata mostram que a campanha bolsonarista deu resultados: desde terça-feira, a popularidade do presidente subiu, sua rejeição diminuiu, e o número de menções positivas a ele, que andava ladeira abaixo, começou a voltar à média.

Hoje de manhã, Bolsonaro mostrou que pretende aproveitar os dividendos da semana para impulsionar as manifestações marcadas para o dia 7 de setembro em defesa da causa que o presidente da Câmara, Arthur Lira, depois da derrota da PEC do voto impresso, havia decretado "enterrada" — um redondo equívoco, como se vê.

Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan Maringá, insinuou que pode comparecer à manifestação e deixou claro esperar dela não menos que um levante popular capaz de atropelar as decisões já tomadas pelo Legislativo e pela Justiça Eleitoral. "Gostaria que não só o parlamento, mas alguns ministros do TSE ouvissem o povo".

Ao difamar o sistema eleitoral, Bolsonaro conseguiu plantar a dúvida na cabeça de brasileiros —e tudo o que ele quer agora é colher a tempestade.