Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro, o presidente que brinca com pólvora, pode incendiar o país
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Policiais militares bolsonaristas são diferentes de militantes aloprados bolsonaristas porque (necessariamente) têm armas.
Comandantes bolsonaristas da Polícia Militar são diferentes de policiais militares bolsonaristas porque, além de armas, têm tropas.
O coronel Aleksander Lacerda, por exemplo, tinha 5 mil homens sob o seu comando quando escreveu em suas redes sociais que "liberdade não se ganha, se toma". Afirmou que para "derrubar a hegemonia esquerdista no Brasil" é preciso "um tanque e não um carrinho de sorvete". Disse que estaria presente nas manifestações do dia 7 de setembro e profetizou: "o caldo vai entornar".
Chefe do Comando de Policiamento do Interior-7 da PM de São Paulo, que reúne sete batalhões em 78 cidades, o coronel deixou claro seu despreparo para a função que é a razão de ser da corporação que representa: zelar pela preservação da ordem pública. Por esse motivo, foi afastado do cargo por determinação do governador de São Paulo, João Doria.
Infelizmente, a decisão do governador pode ser insuficiente para conter o que parece ser o estouro de uma bolha.
Aqui e ali, exemplares como o ex-comandante da Rota, o também bolsonarista Ricardo Nascimento de Mello Araújo, começam a colocar a boina para fora.
No fim de semana, o coronel da reserva publicou um vídeo nas redes sociais dizendo que a PM de São Paulo "sempre participou dos principais movimentos do nosso país" e conclamou "todos os veteranos" da corporação a "estar presente na avenida Paulista" para "ajudar Bolsonaro" e impedir o "comunismo querendo entrar".
Assim, vai se delineando no horizonte a paisagem alarmante que observadores como o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann vinham prevendo.
Em entrevista à revista VEJA desta semana, Jungmann falou de sua preocupação com a possibilidade de que "um cenário de motins policiais" surja num ou noutro estado, de modo que governadores tenham de pedir a interferência das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem.
Na hipótese de Jungmann, o presidente Bolsonaro — que, como comandante em chefe das Forças, é o único autorizado a "engajar" as tropas, ou seja, determinar sua ida às ruas— se nega a atender o pedido dos governadores. Eles, então, recorrem ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional — o que leva o país a um impasse institucional nunca visto e um conflito nas ruas de consequências imprevisíveis.
A ideia de que Bolsonaro, em caso de violência nas ruas, possa se recusar a atender solicitações de governadores para operações de garantia da lei e da ordem (GLO) tem por base declarações reiteradamente proclamadas pelo próprio presidente.
"O meu Exército brasileiro não vai às ruas para agir contra o povo", afirmou o ex-capitão, por exemplo, numa live em abril deste ano, um dia depois de determinar a troca dos comandos do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Bolsonaro vê suas possibilidades de reeleição minguarem a cada pesquisa que sai e em que ele diz não acreditar.
Diante do fantasma da derrota e das consequências que ela pode trazer — também na esfera da Justiça — para ele e sua família, o ex-capitão aposta no tudo ou nada. Hoje, reafirmou que estará presente na manifestação da avenida Paulista.
Bolsonaro brinca com pólvora, e a piora galopante dos índices econômicos do país nos últimos dias é apenas um indício de que, desgraçadamente, ele não é o único que pode sair carbonizado da sua aventura.
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