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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Acusado de rachadinha, Davi Alcolumbre "severiniza" o Senado

Alcolumbre, com Bolsonaro: ex-Davi - Foto: Marcos Corrêa/PR
Alcolumbre, com Bolsonaro: ex-Davi Imagem: Foto: Marcos Corrêa/PR

Colunista do UOL

29/10/2021 11h26Atualizada em 29/10/2021 15h17

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Seis ex-funcionárias do gabinete de Davi Alcolumbre (DEM) acusam o senador de ter embolsado 90% dos seus salários ao longo de cinco anos — prática que, graças à família Bolsonaro, o Brasil todo sabe que se chama "rachadinha".

A revelação foi feita hoje pela revista Veja. Segundo a publicação, da ação na Justiça que as ex-funcionárias movem contra o senador constam extratos bancários comprovando que alguém zerava suas contas tão logo recebiam o pagamento. Os saques seriam feitos em dinheiro vivo, num caixa eletrônico próximo ao gabinete de Alcolumbre.

Se comprovadas as acusações, o parlamentar pode ter seu mandato cassado de forma célere.

Ao contrário do que aconteceu com Flávio Bolsonaro, a acusação que pesa sobre Alcolumbre se refere a um suposto delito cometido no exercício do seu atual mandato. Já Flávio, hoje senador, responde por crime que teria sido praticado na época em que era deputado estadual — do que resulta metade das discussões jurídicas que têm esticado o seu processo.

No caso de Alcolumbre, segundo a VEJA, a prática da rachadinha se estendeu de 2016 a março de 2021. Compreendeu, portanto, inclusive o período em que o parlamentar foi presidente do Senado (2019-2021).

A mera acusação de que um senador cometeu o crime de rachadinha, tido como de quinta categoria e jamais registrado na Casa (onde quem quer pisar fora da linha se dedica a práticas bem mais rentáveis), cobre o Senado com as mesmas tintas grotescas que um dia o ex-deputado Severino Cavalcanti pintou a Câmara ao ser pego em flagrante, no exercício da presidência, extorquindo em R$ 40 mil o dono da lanchonete da Casa para manter a concessão do negócio.

Davi Alcolumbre foi alçado ao terceiro cargo na linha sucessória do Presidente da República catapultado pelo discurso do combate à velha política, na época entoado por Jair Bolsonaro.

Ex-deputado federal pelo Amapá, foi transmutado no Davi que derrotou o Golias, então incorporado por Renan Calheiros (MDB) — que antes de ser beatificado pela CPI da Covid, era o símbolo da cacicagem política dizimada pela Lava Jato.

Era uma época em que Sergio Moro era ministro da Justiça, Augusto Heleno cantava "se gritar pega Centrão" e o governo jurava jamais fazer toma lá dá cá — conversa, só com as bancadas temáticas. Davi Alcolumbre ainda tinha cabelos pretos e representava o novo, o bem.

Agora, a acusação de que chafurdou na rachadinha não apenas "severiniza" o senador. Se comprovada, faz lembrar que, ao final, nada tinha mesmo mudado.