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Bolsonaro diz que não fará "nenhuma barbaridade"; gestos falam o contrário
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Em cerimônia realizada ontem no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro fez um apelo aos deputados e senadores presentes: "Peço agora ajuda aos parlamentares aqui. Ninguém vai fazer nenhuma barbaridade, mas quero que emergencialmente me deem os poderes de zerar o imposto do diesel".
Bolsonaro quer que venha do Congresso uma medida que lhe permita driblar a Lei de Responsabilidade Fiscal retirando as taxações federais sobre o diesel sem compensação de receita — uma renúncia fiscal que pode impactar os cofres do governo em R$ 20 bilhões.
Baixar o preço dos combustíveis é a prioridade número um, número dois e número três do presidente, convencido que está de que bradar em nome da "liberdade" e prenunciar a "volta" de José Dirceu pode ter lá o seu efeito, mas que o que vai definir a eleição é, como diz um assessor palaciano, o "preço do botijão de gás e o feijão no prato".
Bolsonaro semeia a renúncia fiscal para colher, no efeito do barateamento dos combustíveis sobre a cadeia produtiva, seus frutos eleitorais.
E tem também o vale-gás.
Em dezembro passado, o Congresso aprovou a abertura de um crédito adicional de R$ 300 milhões ao Orçamento de 2021 para que o Ministério da Cidadania pudesse bancar metade do preço do gás de cozinha para famílias de baixa renda. Ontem, em entrevista à Voz do Brasil, Bolsonaro anunciou que pretende aumentar o valor do benefício.
"No primeiro momento, famílias recebem o equivalente a meio bujão de gás. Pretendemos aumentar isso aí. O contato nosso é com a Petrobras, e buscando sempre espaço no Orçamento", disse o presidente.
Bolsonaro sabe que não há época melhor para encontrar espaços no Orçamento.
Além das reais necessidades vividas pelas famílias atingidas pela pandemia, ele conta, na tarefa de escavar o erário, com a imensa boa vontade das lideranças de sua base parlamentar, para as quais a abertura dos cofres do governo é a garantia de mais votos, mais deputados eleitos e uma maior bancada em 2023 — com as bilionárias vantagens que isso significa em termos de fundos públicos e aumento do poder de barganha com o governo eleito.
Em 2002, às vésperas da eleição de Lula, o temor do mercado sobre os rumos da economia fez o céu desabar e o dólar disparar para perto de R$ 4 reais — algo como R$ 9 reais a preços de hoje.
Mas já no segundo mês do novo governo suspiros de alívio percorreram a Faria Lima quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se comprometeu a fazer o maior aperto das contas públicas desde a decretação do Plano Real. O Brasil teve um 2003 difícil, mas seguiu em céu de brigadeiro nos três anos seguintes, embalado pelo boom das commodities e o crescimento de 10% ao ano da China.
O que o governo Bolsonaro prenuncia hoje, porém, não é uma tempestade passageira — e a comparação a se fazer não é com o início do governo Lula, mas com o fim do primeiro governo Dilma.
Em 2014, a também candidata à reeleição Dilma Rousseff abriu as burras do Tesouro para subsídios diversos, despejou dinheiro em programas como o Minha Casa, Minha Vida e postergou nos limites da irresponsabilidade o aumento do preço da energia.
O resultado foi que, em 2015, o governo, pela primeira vez, apresentou um déficit como proposta de Orçamento ao Congresso. O Brasil perdeu o grau de investimento nas principais agências de avaliação de risco e ficou na chuva por três anos, na maior recessão já experimentada em sua história.
Em suma, uma barbaridade.
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