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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

PEC do combustível assinada por Flávio faz de Bolsonaro o "velho da lancha"

O presidente Jair Bolsonaro, em passeio de lancha -  REPRODUçãO/VíDEO/@FLAVIOBOLSONARO
O presidente Jair Bolsonaro, em passeio de lancha Imagem: REPRODUçãO/VíDEO/@FLAVIOBOLSONARO

Colunista do UOL

08/02/2022 09h25

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"Ela sai de lancha, mas não mostra o patrocinador. Ôôô, foi o véio que pagou".

A música de Filipe Dominado popularizou a figura do "velho da lancha", o homem rico que faz a alegria de meninas ávidas por usufruir de momentos de luxo e ostentação, devidamente registrados depois em seus Instagrans.

Para lideranças do centrão, parlamentares da base de apoio do governo e a profusão de ministros que deixará seus cargos para arriscar-se nas urnas neste ano, o presidente Jair Bolsonaro virou o velho da lancha.

Ontem, o senador Flávio Bolsonaro (PL) empenhou sua assinatura em favor da PEC apelidada "Kamikaze", a proposta de emenda constitucional que representa mais um degrau na escala do suicídio fiscal do governo, que, para baixar o diesel, começou defendendo uma renúncia com impacto de R$ 20 bilhões nas contas públicas e agora já cogita abrir mão de R$ 100 bilhões de arrecadação para reduzir também o preço da gasolina, do etanol, do gás de cozinha e ainda dobrar o vale-gás e criar um auxílio de R$ 1,2 mil por mês a caminhoneiros.

Até ontem, a PEC com a assinatura de Bolsonaro-filho e a digital de Bolsonaro-pai já tinha 31 assinaturas, mais que o necessário para avançar no Senado. Há ainda a proposta da PEC dos Combustíveis que aguarda reunir assinaturas suficientes na Câmara, o que não deve ser difícil de conseguir. Que político aliado do governo, e ansioso para agradar o eleitor, se importa com o impacto da renúncia tributária e o crescimento da dívida pública?

Isso é problema do velho da lancha.

No final do mês passado, Bolsonaro já havia presenteado os parlamentares com autorização para que torrassem R$ 4,9 bilhões do Orçamento com o fundo eleitoral, a principal fonte de financiamento público para as campanhas.

O presidente ainda manteve intocados no Orçamento os R$ 16,5 bilhões destinados às chamadas emendas de relator, instrumento usado por congressistas aliados para irrigar seus redutos eleitorais.

Como o personagem da música de Filipe Dominado, o presidente tem muito dinheiro e amor para dar — felizes os contemplados.

Um estudo feito pelo instituto Ideia em 2018 mostra quão determinante para a eleição de um deputado é a verba de que ele dispõe para gastar na campanha.

A análise mostrou que conseguiram se eleger praticamente todos os candidatos que investiram no mínimo 15% a mais do que a média de gasto das campanhas daquele ano, que foi de R$ 500 mil.

É questão de lógica.

Candidatos com mais dinheiro podem fazer mais eventos, mais pesquisas, mais viagens e contratar mais cabos eleitorais e mais impulsionamento digital, por exemplo, para ficar só na esfera dos gastos republicanos.

Bolsonaro, de olho na própria reeleição, abre a carteira recheada de dinheiro público, e aliados aproveitam a festa. Mas na hora das fotos no Instagram, o ex-capitão corre o risco de ficar de fora.

"Ôôô, foi o véio que pagou".

As novinhas passeiam de lancha, mas não mostram o patrocinador.

(Convido o leitor a conhecer o boletim que passo a assinar semanalmente e que faz parte da série de newsletters que o UOL lança agora. O primeiro texto --"Bob, o comissário de bordo" -- conta os bastidores da aviação por meio do depoimento de um tripulante de uma das maiores empresas de aviação do mundo).