Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
PEC do combustível assinada por Flávio faz de Bolsonaro o "velho da lancha"
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"Ela sai de lancha, mas não mostra o patrocinador. Ôôô, foi o véio que pagou".
A música de Filipe Dominado popularizou a figura do "velho da lancha", o homem rico que faz a alegria de meninas ávidas por usufruir de momentos de luxo e ostentação, devidamente registrados depois em seus Instagrans.
Para lideranças do centrão, parlamentares da base de apoio do governo e a profusão de ministros que deixará seus cargos para arriscar-se nas urnas neste ano, o presidente Jair Bolsonaro virou o velho da lancha.
Ontem, o senador Flávio Bolsonaro (PL) empenhou sua assinatura em favor da PEC apelidada "Kamikaze", a proposta de emenda constitucional que representa mais um degrau na escala do suicídio fiscal do governo, que, para baixar o diesel, começou defendendo uma renúncia com impacto de R$ 20 bilhões nas contas públicas e agora já cogita abrir mão de R$ 100 bilhões de arrecadação para reduzir também o preço da gasolina, do etanol, do gás de cozinha e ainda dobrar o vale-gás e criar um auxílio de R$ 1,2 mil por mês a caminhoneiros.
Até ontem, a PEC com a assinatura de Bolsonaro-filho e a digital de Bolsonaro-pai já tinha 31 assinaturas, mais que o necessário para avançar no Senado. Há ainda a proposta da PEC dos Combustíveis que aguarda reunir assinaturas suficientes na Câmara, o que não deve ser difícil de conseguir. Que político aliado do governo, e ansioso para agradar o eleitor, se importa com o impacto da renúncia tributária e o crescimento da dívida pública?
Isso é problema do velho da lancha.
No final do mês passado, Bolsonaro já havia presenteado os parlamentares com autorização para que torrassem R$ 4,9 bilhões do Orçamento com o fundo eleitoral, a principal fonte de financiamento público para as campanhas.
O presidente ainda manteve intocados no Orçamento os R$ 16,5 bilhões destinados às chamadas emendas de relator, instrumento usado por congressistas aliados para irrigar seus redutos eleitorais.
Como o personagem da música de Filipe Dominado, o presidente tem muito dinheiro e amor para dar — felizes os contemplados.
Um estudo feito pelo instituto Ideia em 2018 mostra quão determinante para a eleição de um deputado é a verba de que ele dispõe para gastar na campanha.
A análise mostrou que conseguiram se eleger praticamente todos os candidatos que investiram no mínimo 15% a mais do que a média de gasto das campanhas daquele ano, que foi de R$ 500 mil.
É questão de lógica.
Candidatos com mais dinheiro podem fazer mais eventos, mais pesquisas, mais viagens e contratar mais cabos eleitorais e mais impulsionamento digital, por exemplo, para ficar só na esfera dos gastos republicanos.
Bolsonaro, de olho na própria reeleição, abre a carteira recheada de dinheiro público, e aliados aproveitam a festa. Mas na hora das fotos no Instagram, o ex-capitão corre o risco de ficar de fora.
"Ôôô, foi o véio que pagou".
As novinhas passeiam de lancha, mas não mostram o patrocinador.
(Convido o leitor a conhecer o boletim que passo a assinar semanalmente e que faz parte da série de newsletters que o UOL lança agora. O primeiro texto --"Bob, o comissário de bordo" -- conta os bastidores da aviação por meio do depoimento de um tripulante de uma das maiores empresas de aviação do mundo).
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