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Thaís Oyama

OPINIÃO

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Por que Bolsonaro teimou em visitar Putin em meio à crise com a Ucrânia

Bolsonaro e Putin: foto para Biden ver - Bolsonaro e Putin em encontro em 2019 no Japão
Bolsonaro e Putin: foto para Biden ver Imagem: Bolsonaro e Putin em encontro em 2019 no Japão

Colunista do UOL

14/02/2022 12h07

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A pressão "violenta" (até onde a linguagem diplomática pode ser violenta) feita pelo governo dos Estados Unidos para que Jair Bolsonaro não fosse à Rússia foi determinante para que o presidente brasileiro mantivesse a viagem.

Segundo interlocutores do chanceler Carlos Alberto França, o ministro deixou claro que a diplomacia americana "fez de tudo" para que Bolsonaro cancelasse o encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, marcado em dezembro, antes da eclosão da crise com a Ucrânia. O receio americano é que o encontro seja interpretado como um alinhamento do Brasil à exigência do líder russo de impedir a entrada da Ucrânia na Otan.

Para Bolsonaro, a decisão de manter a agenda mostrou que "o Brasil não bate continência para os Estados Unidos", nas palavras de um colaborador. Segundo esse assessor, a viagem do presidente transmitirá aos seus apoiadores, incluindo a base ligada ao agronegócio, a ideia de que ele "defende os interesses comerciais brasileiros e não se intimida com pressões externas".

O Brasil importa da Rússia insumos para produção de fertilizantes, como o fosfato, mas está tendo problemas para garantir o fornecimento do produto diante da alta demanda gerada, entre outras coisas, pelas sanções comerciais impostas a outro forte exportador, Belarus, em crise política desde a ascensão do autocrata Alexander Lukashenko. O Brasil quer evitar que uma diminuição da oferta russa de fosfato encareça a produção de fertilizantes no país e prejudique o agronegócio.

Do ponto de vista político, a decisão de Bolsonaro de manter o encontro com Putin tem ainda outro significado. Ela marca uma vitória de aliados do presidente contra uma ala radical do bolsonarismo personificada pelo ex-chanceler Ernesto Araújo — o ex-ministro de Bolsonaro que se notabilizou pelos conflitos alimentados contra a China, principal parceiro comercial do país.

A viagem de Bolsonaro, afirmam aliados, visaria esvaziar a carga ideológica imposta ao Itamaraty nos tempos de Araújo e reposicionar o Brasil como um país de diplomacia multipolar, "que dialoga com todos os lados e preza pela paz mundial". Resta saber se o presidente cumprirá o script, a começar pela parte da paz mundial (ele está instruído a evitar o assunto da Ucrânia).

Do lado de Putin, a expectativa é que — logrado o intento de esfregar na cara do colega Joe Biden a presença em seu território de um líder da América do Sul — o russo trate o colega brasileiro com um pouco mais de calor do que o que dedicou ao francês Emanuel Macron, de quem fez questão de se manter a grande distância. Putin, dizem, tem medo de contrair covid-19, mas não só. Especialista que é em outras formas de contágio bem mais letais, pode não economizar na precaução — e deixar Bolsonaro sem selfie para postar no Instagram.

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