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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que pesquisas não se mexem e o que ainda pode afetar Lula e Bolsonaro

Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet - Reprodução, Cleber Clauber Caetano/PR, Lucas Lima/UOL e Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo, Folhapress
Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet Imagem: Reprodução, Cleber Clauber Caetano/PR, Lucas Lima/UOL e Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo, Folhapress

Colunista do UOL

05/09/2022 10h56

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Há uma semana chovem pesquisas eleitorais.

E para desconforto dos céticos e terraplanistas, os principais institutos têm divulgado números quase idênticos, o que leva à inescapável conclusão de que ou bem eles se juntaram num complô a fim de enganar os eleitores (não obstante o fato de serem concorrentes e pagos por diferentes empresas) ou bem podem estar certos em suas conclusões.

Ipec, FSB, MDA, Ipespe, Quaest e Datafolha, entre outros, apontam que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está à frente de Jair Bolsonaro por uma diferença entre 8 a 13 pontos percentuais.

Há semanas esse quadro praticamente não muda.

A estabilidade surpreende tanto mais quando se leva em conta que, desde o último dia 22, importantes eventos marcaram o calendário eleitoral: a série de entrevistas dos candidatos no jornal de maior audiência na televisão brasileira, o primeiro debate presidencial e o início da propaganda eleitoral no rádio e na TV.

À parte o crescimento da candidata Simone Tebet (MDB) fora da margem de erro, nada disso teve o condão de alterar os ponteiros das pesquisas, ao menos para Lula e Bolsonaro, empacados em seus lugares ou apenas oscilando, para cima ou para baixo.

O "congelamento" na posição dos principais candidatos à Presidência é a confirmação de que a maior parte dos eleitores brasileiros já definiu seu voto — 77% deles, segundo o Ipec.

Trata-se de um índice recorde, só possível pelo fato de que, pela primeira vez na história das eleições para a Presidência da República no país, concorrem ao cargo um presidente e um ex-presidente — figuras que, além de serem mais do que conhecidas e terem suas ideias e passados já devidamente escarafunchados, colocam-se em posições ideológicas opostas e despertam sentimentos intensos, de raiva e admiração.

Como nada pode ser mais poderoso para sedimentar uma ideia do que uma emoção arrebatadora, daquelas de virar a mesa em almoços de família, é provável que os argumentos, ataques e sapatadas mútuas que se verá nas próximas entrevistas, debates e propagandas eleitorais continuem incapazes de furar a carapaça das convicções.

Assim, estará o resultado do dia 2 de outubro já definido?

Não são muitas as variáveis restantes com poder de alterar o quadro atual, dizem pesquisadores. Mas eles apontam ao menos duas.

A primeira é a possibilidade de, até outubro, o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, 00 ainda vir a carrear uma quantidade significativa de votos para Bolsonaro na classe C.

Nas duas ocasiões anteriores em que o benefício começou a ser distribuído, o impacto positivo na popularidade do presidente levou dois meses para se fazer perceber. Desta vez, a primeira parcela do Auxílio Brasil vitaminado foi paga no dia 9 de agosto.

A segunda possibilidade capaz de provocar uma virada na eleição, na verdade, se subdivide em muitas: uma descoberta demolidora sobre Lula ou Bolsonaro, uma gafe avassaladora, um incidente que prejudique ou inviabilize a permanência de um dos dois no páreo. Em suma, a contingência — esta cega e sem partido.