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Bolsonaro acreditava na vitória; para aliados, ele perdeu no "cara e coroa"
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Até o último momento, o entorno de Jair Bolsonaro se dividiu em duas categorias: os assessores que diziam ter certeza da sua vitória e os que afirmavam que as chances entre ele e Lula eram equivalentes. Dessa forma, e isolado em suas muralhas, Jair Bolsonaro acreditava piamente que ganharia.
A que horas essa convicção foi por terra é algo que poucos poderão responder, já que até as 20h30 de ontem, quando a vitória de Lula já era certa, nenhum ministro ou integrante do núcleo político havia conseguido falar com ele.
Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foram apenas alguns dos que tentaram sem sucesso. Jair Bolsonaro permanecia, segundo um colaborador, "trancado, sem atender ninguém".
Enquanto isso, assessores de campanha faziam o balanço da tragédia. Para um deles, a maneira hesitante e confusa como o presidente lidou com o caso Roberto Jefferson marcou o início da sua derrota ("Ele vinha crescendo, mas a partir daquilo se desequilibrou").
Para outro, pesou no resultado o empenho do TSE na liberação da gratuidade do transporte público. "Isso fez a abstenção no Nordeste ser igual à do primeiro turno e manteve intacta a fortaleza de Lula na região", afirma o colaborador.
Em um ponto, porém, os integrantes da campanha de Bolsonaro, que passaram boa parte da eleição se desentendendo entre si, ontem concordavam: São Paulo foi fundamental para a derrota do presidente.
A campanha esperava que Bolsonaro abrisse no estado uma vantagem entre 3,5 e 4 milhões de votos sobre Lula — e o motivo para isso, além do favoritismo do candidato bolsonarista ao governo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era o fato de, em 2018, o ex-capitão ter tido 7 milhões de votos a mais no estado que o então candidato petista, Fernando Haddad. "Se ele tivesse conseguido ao menos dois terços da votação de 2018 teria ganhado. Bolsonaro perdeu no cara e coroa na reta final", diz o aliado.
Derrotado pela menor diferença de votos das eleições presidenciais no Brasil, Bolsonaro deixará o Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro com um patrimônio de 58 milhões de votos, cerca de 400 mil a mais do que recebeu na primeira eleição.
Se fará uso disso para se manter no centro da arena política, de olho em a 2026, não depende só da sua disposição.
Sem mandato pelos próximos quatro anos, o ex-capitão enfrentará dificuldades para se impor no partido que ajudou a inflar. O PL, que antes da sua filiação tinha 33 deputados e dois senadores, conquistou nessas eleições 14 senadores e 99 deputados, sendo 60% desses últimos bolsonaristas. Mesmo tendo maioria na bancada, no entanto, Bolsonaro não é o dono da sigla.
Esse título pertence a Valdemar Costa Neto, que daqui a alguns meses, seguindo a vocação histórica do centrão, pode decidir que melhor do que abrigar um ex-presidente em seus domínios é aliar-se ao novo — hipótese em que Bolsonaro passará de ativo a estorvo.
Nesse caso, o ex-capitão, cuja notória incompatibilidade com a vida partidária já fez com que deixasse oito partidos e implodisse um, correrá o risco de vagar pelo palco político como uma ideia da qual outros tirarão proveito. Porque é certo que se o futuro de Bolsonaro é duvidoso, o do bolsonarismo apenas começou.
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