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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula elege Campos Neto o novo "inimigo do povo"

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e representante do "sistema financeiro": "physique du rôle"  - Reprodução/TV Cultura
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e representante do "sistema financeiro": "physique du rôle" Imagem: Reprodução/TV Cultura

Colunista do UOL

22/03/2023 11h06

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Com seu figurino composto e sobrenome fidalgo, Roberto Campos Neto dá um bom inimigo do povo.

O presidente Lula mostrou já ter percebido isso.

Em entrevista ontem ao portal 247, atacou cinco vezes o "sistema financeiro" e seu representante na terra. Campos Neto, presidente do Banco Central, disse Lula, não se importa com o crescimento nem com o emprego e, ao manter os juros no atual patamar, agrada só a quem "vive disso e ganha muito dinheiro com especulações".

Lula, em seu terceiro mandato, não pode se dar ao luxo de posar de desconhecedor dos fundamentos da economia. Sabe bem o presidente que juros não são feitos de voluntarismo nem usura e sobem ou caem a depender do horizonte fiscal, hoje expansionista.

Ocorre que Lula, eleito com 51% dos votos em um país polarizado, precisa manter coesa sua base de apoio sob pena de virar, em vez de um presidente com minúscula vantagem sobre os seus adversários, um governante com apoio minoritário e sujeito a ser engolido pela oposição.

E se eleger um inimigo para manter a base unida não soa uma ideia original, parece ainda eficaz, tanto mais se esse inimigo vier com garras rentistas e chifres de mercado. Bem melhor que um cansado Jair Bolsonaro — aliás, outro mestre em criar vilões com vistas a atiçar sua turma.