Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brasil de Lula 1 e Lula 2 não existe mais
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Lula terminou seu primeiro mandato, em 2006, com 52% de aprovação, o melhor índice até então obtido por um mandatário brasileiro desde 1990. No seu segundo governo, conseguiu subir ainda mais o sarrafo — fechou 2010 com 87% de aprovação.
Hoje, governando um país polarizado, e eleito com não mais do que 51% dos votos, o petista tem um espaço apertado para crescer. E se o seu teto de popularidade já é baixo, um segmento do eleitorado em especial tende a espremê-lo ainda mais.
Entre os evangélicos brasileiros, 58% dizem não confiar no presidente, como mostrou a pesquisa Ipec divulgada no último domingo.
É um número muito próximo dos que rejeitaram o petista na última eleição — em torno de 60% dos evangélicos votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno.
Sendo a maior parte dos evangélicos brasileiros pobre, seria compreensível que se juntassem aos eleitores das classes D e E, que, em sua maioria, deram o seu voto a Lula.
Os evangélicos, no entanto, diferem desse grupo num aspecto crucial: "Eles tendem a priorizar a agenda moral em detrimento do "voto econômico", aquele que responde, por exemplo, a políticas de redistribuição de renda", afirma o cientista político e pesquisador da Universidade de Zurique Victor Araújo. Autor do livro "A Religião distrai os pobres?", ele defende que, sobretudo para os evangélicos pentecostais e neopentecostais, "a identidade religiosa se sobressai em relação à a identidade de renda".
Dito de outra forma, entre um político que represente a expectativa de uma melhora de vida e ganhos materiais e outro que baseie seu discurso na defesa de valores alinhados com os seus (posicionar-se contra a legalização das drogas e o ensino da sexualidade nas escolas, por exemplo), o evangélico brasileiro tende a ficar com o segundo.
Esse raciocínio se provou fato na última eleição e a pesquisa Ipec sugere que ele se mantém agora.
Mas se os evangélicos não confiam em Lula e não dão mostras de querer conversa com ele, a recíproca aparenta ser verdadeira. "Não se viu por enquanto uma tentativa de diálogo do governo com essa porção substantiva da sociedade brasileira", diz Araújo.
Como exemplo desse "não-diálogo", o cientista político cita desde a ausência de representantes evangélicos na cerimônia de subida da rampa na posse presidencial até o "ruído" produzido por ministros que, em lives diárias, defendem pautas rejeitadas por pentecostais e neopentecostais e não oficialmente encampadas pelo governo, como a descriminalização das drogas.
Os evangélicos dão mostras de que desconfiam de Lula e estão indispostos com o seu governo já na largada.
Como representam de 30 a 35% do eleitorado brasileiro, o governo precisará deles caso pretenda se manter viável em 2026. Assim, bem faria o presidente em se lembrar que o Brasil de Lula 1 e Lula 2 não existe mais — a folga de popularidade acabou e o teto agora está bem em cima da sua cabeça.
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