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Wálter Maierovitch

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O J´accuse apresentado por Zelensky e o lapsus freudiano russo

Colunista do UOL

06/04/2022 16h31Atualizada em 07/04/2022 13h18

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O presidente Zelensky teve, na manifestação perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas de terça (5), o seu momento de Émile Zola, o grande escritor e pensador francês do século 19.

Como Zola, no marcante 13 de janeiro de 1898, Zelensky fez o seu "j´accuse".

Para Zelensky, existe o terrorismo comum e o privilegiado. E a distinção entre terrorismo comum e o terrorismo de estado praticado pela Rússia seria uma só. A Rússia, concluiu Zelensky, tem cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com poder de veto. Em outras palavras, pratica impunemente terrorismo.

Zelensky — confira a minha coluna de ontem— deixou os representantes dos estados-membros atônitos. Com a sensação de nocauteados, numa luta de box do Madison Square Garden de Nova York.

O presidente ucraniano usou uma imagem fortíssima — de a ONU estar presa numa jaula. A sua missão, pelo estatuto constitutivo de 26 de junho de 1945, é de manter ou restabelecer a paz. Mas, como realizar isso — provocou Zelensky —, se as ações de paz estão sujeitas ao veto de um dos cinco estados-membros, com cadeira vitalícia no Conselho de Segurança.

Ao "j´accuse" de Zelensky respondeu o embaixador russo junto à ONU, Vasily Nebenzya. E ele cometeu o chamado lapso freudiano ao afirmar: "todos aqueles cadáveres das ruas de Bucha não existiam quando da chegada das tropas russas".

Vasily logo percebeu a bola fora e pediu "pardon" pela colocação incorreta. E frisou que os russos não mataram civis inocentes, não estupraram e nem assassinaram mães na presença de filhos menores. Em síntese, negou todas as acusações feitas pelos ucranianos.

Pano rápido. Hoje, nos corredores, auditórios e salas da sede novaiorquina da ONU, o imponente Palácio de Vidro, só se fala do irrespondível "j´accuse" de Zelensky e do ato falho do embaixador russo, que irritou Putin e lhe deu a certeza de que será substituído.