Wálter Maierovitch

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Opinião

Tragédia em campo de refugiados em Gaza coloca reféns do Hamas em risco

Usada a imagem do barômetro com relação aos 220 reféns (4 foram liberados) mantidos pelo Hamas, as pressões — de ordem humanitária, política e vindas da opinião pública internacional — perdem força diante da tragédia decorrente do bombardeio aéreo israelense no campo de refugiados em Jabalia, com 50 palestinos mortos e 150 feridos

Vamos por partes, com destaque aos esforços para a libertação dos reféns e os seus atuais protagonistas.

O xeque Al-Thani

O xeque Tamim bin Hamad al- Thani , do Qatar, está empenhadíssimo na liberação dos reféns. Ele sentiu o peso da desconfiança do Ocidente e de países árabes moderados, como Egito, Arábia Saudita e Jordânia.

O Qatar sustentou financeiramente a Faixa de Gaza, a beneficiar o governo tirânico do Hamas. A título de auxílio humanitário,fornecia milhões para a administração da faixa de Gaza pelo Hamas e cobria os pagamentos dos dependentes públicos.

Al-Thani caiu das pernas, dizem, ao saber e constatar que a maior parte da ajuda humanitária foi desviada pelo governo do Hamas para o seu braço militar e terrorista, as brigadas Ezzedine al Qassam.

Dá para imaginar os montantes dos valores fornecidos, pois o Hamas está bem equipado belicamente e criou uma estrutura subterrânea de túneis caríssima. Israel está a usar inteligência artificial a fim de tentar mapeá-la.

Para muitos, Ali Thani sabia de tudo, menos do plano terrorista consumado em 7 de outubro passado. E os países árabes, pelos seus governantes, lembram proibir o Islã o terrorismo, a violência, a matança igual a realizada pelo Hamas.

O emir do Qatar manteve sempre relacionamento de amizade e confiança com os presidentes americanos. E coube ao xeque do Qatar acalmar os talibãs, evitar mortes, quando da retirada tumultuada das tropas norte-americanas.

Benjamin Netanyahu nunca estrilou sobre a posição do Qatar em ajudar financeiramente Gaza. Segundo informam os jornais e os cientistas políticos hebreus, o premiê considerava aquilo o "preço da paz".

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Para muitos, até Israel repassava recursos para o Qatar juntar aos seus e enviar ao Hamas. E isso não se deu apenas quando Netanyahu fortaleceu o Hamas para minar o prestígio e a força da Autoridade Palestina, com nova cara a partir do seu reconhecimento pelo tratado de Oslo de 1993.

Entre erros atribuídos a Netanyahu, está o de não haver colocado os serviços de inteligência para verificar o destino real da ajuda financeira dada pelo Qatar.

Em resumo, os operadores do Direito Internacional, espantam-se com a "ingenuidade" de Netanyahu.

A propósito, os dois serviços de inteligência e de espionagem de Israel focaram, apenas, nas verbas recebidas pelo Hamas de associações culturais e caritativas islâmicas. E trocaram informações com o Egito, sempre atento a ainda atuante Irmandade Muçulmana, expulsa do seu território nacional.

Para os 007 da inteligência ocidental e dos Estados nacionais moderados islâmicos, Al Qaeda, Isis, Jihad, Irmandade Muçulmana, objetivam sempre a constituição de um califado a unir todos os islâmicos, combater os infiéis judeus e cristãos e dominar o mundo.

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Por isso, os governantes árabes-islâmicos reprovam o terrorismo do Hamas e a violência de Israel, a descaracterizar a situação de legítima defesa.

Al-Thani não quer sair do conflito Hamas x Israel sob suspeita e, como islâmico, não admite ter as mãos manchadas por sangue de inocentes.

David Meidan

Outro personagem de destaque na luta para a libertação dos reféns chama-se David Meidan, nascido no Egito e de alta patente do Mossad, serviço de inteligência do estado nacional judeu.

Meidan já está aposentado do Mossad. Transformou-se no maior nome em mediações e conflitos internacionais. É muito consultado pelos EUA, França e Reino Unido.

Quando o Hamas capturou e fez refém o jovem soldado israelense Gilad Shalit houve uma comoção internacional. Até o papa, um católico, pediu a liberação.

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Gilad ficou em cativeiro por cinco anos. Nos últimos três anos, foi dado como morto. Aí, destacou-se Meidan para cuidar do retorno do corpo para Israel.

Meidan descobriu que Gilad estava vivo e com informes de haver sido submetido a uma lavagem cerebral, transformando-se em jihadista.

Especulações à parte, Meidan fechou um acordo com o Hamas. O soldado Gilad foi trocado por 1.027 prisioneiros mantidos em Israel e condenados por terrorismo e assassinatos.

O experiente Meidan sabe das dificuldades de agora. O Hamas não quer se desfazer do trunfo dos reféns e ficar sem nada para negociações.

Por outro lado, Meidan tem informações da dificuldade do Hamas para gerir uma grande quantidade de reféns. E com bombardeamento intenso, alguns podem ser colocados como escudos humanos, para causar horror na opinião pública.

Pano rápído

Como colocado em comentário anterior, o acordo para libertação de reféns estava bem próximo. Tudo muda num conflito e as pressões dos barômetros das guerras sobem e descem.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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