Wálter Maierovitch

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Opinião

Refém símbolo liberada, Netanyahu volta politicamente a respirar

Durante 246 dias, tempo da guerra, o primeiro ministro israelense Benjamin Netanyahu sonhou poder ter ao menos um refém encontrado. Tudo para mostrar e acalmar os familiares e amigos dos reféns feitos pelo Hamas, sempre reunidos na chamada 'Praça dos Sequestrados'.

Dinheiro foi oferecido pela força de defesa israelense (IDF) por informações, por toda a faixa geográfica de Gaza. A cada dia passado, a suspeita dos reféns em túneis controlados pelo Hamas crescia.

Uma frase da família da refém símbolo, Noa Argamani, 26 anos completados no cativeiro, correu o mundo: "Poderia ser tua filha ou irmã".

Num dos vídeos divulgados pelo Hamas, a jovem Noa parecia estar na companhia de Yossi Sharabi e Itai Svirsky.

Era um sinal de três reféns vivos. Netanyahu, sempre pressionado fortemente pelos opositores e humanistas, voltou ao seu discurso de prioridade à libertação dos reféns.

A sua contradição, no entanto, era sentida. Como libertação, se Netanyahu frisava não parar a guerra sem exterminar o Hamas?

Com malícia, o Hamas informou estarem mortos os supracitados Yossi e Itai. A nota informava a causa das mortes: Israel havia bombardeado e derrubado o prédio onde estavam aprisionados.

Noa e a sorte

Só para lembrar, imagens do seu sequestro foram gravadas e exibidas muitas vezes.

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Com o namorado Avinatan, a sequestrada Noa estava na trágica festa rave em comemoração à festa judaica de Sukkot. O lugar ficava perto do Kibbutz Re' in, próximo à fronteira com Gaza.

Noa, depois de imobilizada, restou levada numa motocicleta.

Hoje, em Gaza e no interior de uma residência de família palestina, foi, pelo IDF, resgatada com vida e no gozo de boa saúde.

Foram resgatados ainda três outros sequestrados pelo Hamas: Andrey Kozlov, 27 anos, Almogmrit Jan, 22 anos e Sholomi Ziv, 41 anos.

Segundo o chefe da família palestina, Noa teve muita sorte. Eles a trataram bem e a alimentaram. Pelo jeito, receberam ordens do Hamas e não tinham como resistir.

Noa, no período de cativeiro, apareceu em vários vídeos. Um deles a família não deixou divulgar.

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O presidente Joe Biden realizou um apelo aos sequestradores. A mãe de Noa estava muito doente, vitimada por câncer em progressão. Biden pediu a libertação para que a mãe pudesse ver a filha antes de morrer de câncer.

Pelas aparições dramáticas, Noa virou símbolo da dor e das aflições. Conseguiu ser salva.

Netanyahu sobrevida política

O sanguinário premiê israelense estava com a corda no pescoço. A proposta americana de cessar-fogo e fim da guerra, dividida em três fases, a primeira com duração de seis semanas, estava na mesa.

Netanyahu mantinha maioria no Parlamento (calcula-se em cerca de 70 parlamentares), mas a sua imagem internacional estava destroçada.

O premiê, como é percebido, é tido como responsável pela péssima imagem de Israel no exterior. É visto como causador da tempestade de vento que soprou as cinzas a encobrir o antissemitismo.

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No momento, o Hamas está enfraquecido e suas forças bélicas reduzidas a dois batalhões. Perdeu prestígio em um episódio em Rafah que circulou fortemente na região: palestinos foram agredidos brutalmente, para deles serem retirados alimentos recebidos em postos humanitários.

O acordo americano convém ao Hamas. Nada como seis semanas sem ataques, soltura de só metade dos reféns e prisioneiros trocados por eles. E nada a respeito de uma longínqua terceira fase do acordo, com esperança de voltar a governar Gaza, com as forças de Israel fora da faixa.

Mas, com quatro reféns encontrados, são e salvos, Netanyahu pode voltar à tese de que falta pouco para a destruição do Hamas.

Enquanto isso, e com a iminência de novos embates na fronteira do Líbano com o Hezbollah, o premiê vai se mantendo no poder.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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