Wálter Maierovitch

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Opinião

Militante antifascista ganha 170 mil votos na Itália e pode deixar prisão

No meio da gangorra das eleições europeias, Ilaria ganha imunidade parlamentar para deixar a prisão.

Ilaria Salis, 39, é uma professora de escola elementar italiana. Nascida em Milão, tornou-se uma militante antifascista.

No dia 11 de fevereiro ela foi presa em Budapeste (Hungria) ao sair no braço com dois neonazistas.

Os dois neonazistas, inconfundíveis pelos seus trajes e posturas, deram as caras em um evento anual em memória ao histórico Cerco de Budapeste, no final da Segunda Guerra.

Por pressão da primeira-ministra Giorgia Meloni, direitista e que já foi da juventude fascista italiana, Ilaria foi transferida para prisão domiciliar, em apartamento que teve de alugar.

Nas eleições para o Parlamento Europeu, os italianos deram 170 mil votos para Ilaria.

Em razão da sua eleição e pelas regras da União Europeia, Ilaria passou a ter direito à imunidade parlamentar. Ou seja, suspensão da ordem de prisão.

'O fascismo nunca está morto'

A frase acima não é de Ilaria. É título do livro recém lançado do consagrado historiador Luciano Canfora: Edizione Dedalo, publicado em março.

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O livro do professor Canfora faz sucesso em momento que a direita conquistou muitas cadeiras no Parlamento Europeu.

Caso pensemos em direita, a incluir a democrática e a ultradireita, a nova dança de cadeiras, 720 estavam em disputa nos 27 estados nacionais, fez tremer Ursula van der Ley, a presidente da Comissão Europeia desejosa em obter segundo mandato de cinco anos.

78 anos de vida republicana

No 2 de junho passado, a Itália completou 78 anos de vida republicana, ou melhor, de fim da monarquia absoluta sustentadora do fascismo, com Mussolini na função de primeiro-ministro.

Nesse embalo republicano, 170 mil eleitores elegeram para o Parlamento Europeu a professora Ilaria e vão, nas próximas horas, assistir a saída de prisão do autocrata Viktor Orban, cinco vezes premiê.

A propósito e como ficará colocado mais abaixo, Orban foi um dos perdedores das eleições europeias. A lembrar que cada estado-membro promove, no seu território e com os seus nacionais, a eleição ao Parlamento europeu: são 27 estados-membros da União Europeia.

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O autocrata Orban, — como Macron na França, Scholz na Alemanha, De Croo na Bélgica—, perdeu nas eleições europarlamentares e teve de assistir à acensão de Peter Magyar, um ex-aliado que virou opositor.

Conhecido na Europa como "o senhor, não", Orban, que se criou caso no ingresso da Suécia na Otan e vetou 50 bilhões de euros de ajuda financeira à Ucrânia, a sua bola vai baixar.

Dois modelos de direita em disputa

Com garantidas 185 cadeiras, o grupo denominado Partido Popular Europeu, constituído de democratas cristãos, deu um refresco para Van der Leyen.

Com isso, ela espera ser indicada pelos líderes,entre eles Macron e Schoelz, de modo a emplacar o supracitado segundo mandato presidencial, da Comissão Europeia. E a presidente tem a função executiva.

Van der Leyn acabou de dizer: "Construiremos um bastião contra os extremistas de direita e de esquerda". O principal grupo de extrema direita, ID (Identidade Democrática), obteve 58 cadeiras.

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No novo Parlamento teremos a direita dividida em europeístas e nacionalistas.

Os europeístas da direita deverão apoiar Van der Leyen. Os nacionalistas, que são classificados como de extrema direita, irão continuar a girar nas órbitas de Putin e de Trump, se este vencer. E sempre essa ultra direita exibirá a bandeira da autonomia, ou melhor, a bandeira contrária à soberania da União Europeia.

A esquerda radical, com presença na França e pela liderança de Jean Luc Mélenchon, perdeu feio.

A candidata apoiada por Mélenchon obteve 9,89%. E a candidata Manon Aubry perdeu feio. Discurso atrasado, rancoroso e pró Putin, num momento em que os europeus percebem o massacre russo imposto aos ucranianos. A extrema direita francesa tirou partido disso e do desprestígio do presidente Macron. Liderada por Marine Le Pen, a extrema direita francesa emplacou o jovem Jordan Bardella, 28 anos, com 31,7% dos votos dos franceses.

'La Meloni'

A primeira-ministra Georgia Meloni foi a grande vencedora na Itália. Ela é europeísta e tromba com o vice-premiê Matteo Salvini, um neofascista disfarçado em panos de federalista.

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O antieuropeísta Salvani obteve votação considerada baixa e saiu de crista baixa. Perdeu até para o partido Força Itália, que ainda se sustenta na imagem do falecido Sílvio Berlusconi. Sem força, Salvini, integrante da coalizão de apoio a Meloni, perde voz e força, em especial nas insinuações de deixar a coalizão e colocar fim ao governo Meloni.

Em se tratando da Itália, o resultado das eleições europeias indica para uma polarização entre Meloni e Elly Schlein, a líder do partido democrática, que reúne a esquerda e o centro-esquerda.

O Partido Democrático italiano não venceu o Fratelli d'Italia (Irmãos da Itália) da premiê Meloni, mas teve ótima votação. Só para recordar, Meloni levou 28,8% dos votos e Schlein ficou com 24%.

Pano Rápido

A direita ganhou forças, mas as forças democráticas e conservadoras ainda irão dominar o Parlamento europeu.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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