Wálter Maierovitch

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Opinião

Netanyahu dará cartada arriscada em discurso no Congresso dos EUA

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fará nesta quarta-feira (24) um pronunciamento no Congresso americano e uma visita a Joe Biden, que se recupera da Covid, seria uma espécie de avant-premiére da sua fala.

Netanyahu chegou aos Estados Unidos com o peito cheio por ter reagido com eficiência ao ataque dos houthis, uma organização terrorista patrocinada pelo Irã. Os houthis controlam de parte do território do Iêmen, apoiam ao Hamas e seus membros estão postados em ponto estratégico do Mar Vermelho, a atacar navios comercias e a perturbar as exportações da Arábia Saudita.

Os houthis, embora distantes 1.600 km da faixa geográfica de Gaza, acabaram explodindo um drone em Tel Aviv. A explosão aconteceu perto da embaixada americana e matou uma pessoa.

Com ordens de Nethanyahu, as forças de Israel reagiram e bombardearam pesadamente o centro operacional de recebimento de armas e munições dos houthis, em região portuária do Iêmen.

Dado o momento americano, com Biden desistindo de concorrer à reeleição e especulações diversas sobre a convenção democrática de 19 a 22 de agosto (especula-se que poderá ser on-line), com montagem da chapa de presidente, vice e delegados partidários, o sanguinário Netanyahu não vai conseguir roubar a cena.

A visita a Biden

O término do mandato de Biden só ocorrerá em 20 de janeiro de 2025, mas, nesse meio faltante, os seus assessores da Casa Branca não acreditam possam mudar o rótulo de incompetente que Bibi Netanyahu grudou no presidente americano e tanto interessou a Donald Trump.

O certo é ter Netanyahu colocado em dúvida a capacidade de Biden como mediador de conflitos no Oriente Médio.

Conflitos, alías, que Netanyahu expandiu com o hezbollah e, como frisado acima, com os houthis do Iêmen.

Netanyahu está condicionado a ressaltar, na fala ao Congresso americano, a resposta dada ao Irã e a sua estratégia de terceirizar o terrorismo, ou seja, apoiar, armar e adestrar, organizações terroristas.

Netanyahu, como todos já sabem, não quer terminar com os conflitos. Deles dependem a sua sobrevivência como primeiro-ministro.

Com o fim dos conflitos, Bibi Netanyahu perderá o mandato e se complicará nas apurações sobre a sua responsabilidade no massacre promovido pelo Hamas, em 7 de outubro.

Biden x Netanyahu

Biden sempre foi duro com Netanyahu. Algumas vezes chegou a perder a paciência. Mas, o premiê israelense sempre fez ouvidos moucos. Por exemplo, Netanyahu continuou a determinar, pelas forças israelenses, bombardeamentos em zonas de aglomerações de civis e isto resultou em desumanos massacres.

Netanyahu promoveu a migração de palestinos inocentes, não participantes da guerra, e descumpriu a promessa de lhes dar tranquilidade. Ao contrário, depois das deslocações, quis que voltassem para as suas casas, destruídas ou inabitáveis.

Contra a recomendação de Biden, o premiê israelense continua a ordenar incursões e bombardeamentos em áreas de Rafah, na fronteira com o Egito, por onde passa a ajuda humanitária. Em Rafah, além de migrantes enganados e alta densidade populacional, existem os acampamentos dos foragidos das guerras.

Biden usou de vetos no Conselho de Segurança da ONU em favor de Israel até não aguentar mais e deixar ser aprovada a última deliberação, que Netanyahu saiu a dizer não possuir força vinculante.

Até agora, e isso é certo, Biden não conseguiu o cessar fogo e a libertação dos reféns, embora sempre se mostrasse otimistas e insistisse em afirmar faltarem poucos detalhes.

E continua Biden a lutar para a implantação de dois estados para dois povos.

Os partidos de extrema direita israelenses, a incluir os supremacistas, não querem o estado palestino. E ainda sustentam pertencer a Cisjordânia a Israel, em face dos relatos bíblicos. A Corte de Justiça de Haia, nesta semana, acabou de decidir em sentido contrário, embora sua decisão não seja vinculante.

Trump quer ser visitado por Netanyahu

O staff de Trump pressiona Nethanyahu para, depois da passagem pelo Congresso, visitar Trump. E Trump lembra dos pacificadores acordos abraâmicos, de setembro de 2020, celebrados entre Israel, Palestina e Emirados Árabes Unidos

Durante todo o tempo do conflito, Trump aproveitou-se politicamente da situação e da rebeldia de Netanyahu para dizer: "Os inimigos devem ficar sabendo que a América e Israel serão sempre aliados".

Enfim, Netanyahu sabe bem que não pode se precipitar pois o mandato de Biden só termina em janeiro de 2025, período longo demais quando se está em guerra.

Por outro lado, mantém vínculos pessoais de amizade com Trump. E os vínculos fraternais foram estabelecidos graças ao genro de Trump, o empresário Jared Hushner. Por ser casado com Ivanka Trump, o genro Hushner foi conselheiro sênior da Casa Branca.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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