Wálter Maierovitch

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Opinião

Pablo Marçal surge à semelhança do prefeito mafioso Vito Ciancimino

Os grandes chefes da Cosa Nostra siciliana, pela lei penal italiana chamada de máfia, eram naturais da pequena cidade de Corleone. Por tal razão, e no cinema, o poderoso chefão (Godfather) levou o nome de 'don Vito Corleone'.

A secular Cosa Nostra siciliana tinha, na Sicília ocidental, controle social e territorial.

Foi fácil, por isso, ter o controle eleitoral siciliano e o partido da Democracia Cristã, o mais forte, também ganhava as eleições na Ilha. Tinha vínculos com a Cosa Nostra.

Don Vito Ciancimino

Em Palermo, capital da ilha Sicília e durante anos considerada a capital mundial do crime organizado, a Cosa Nostra elegeu o seu primeiro prefeito: Vito Ciancimino, ou mais corretamente, don Vito Ciancimino.

Onde Ciancimino nasceu? Acertou quem falou Corleone. A montanhosa cidade de Corleone, hoje com cerca de 12 mil habitantes, é uma comuna da província de Palermo.

Ciancimino assumiu a prefeitura de Palermo em 15 de novembro de 1970.

O interesse mafioso estava focado nos lucros financeiros. Por exemplo, no controle das concorrências públicas municipais, nas contratações, concessões, nas alterações das posturas municipais para edificações em áreas preservadas, no lucro sobre as atividades balneárias (paga-se ingresso nas praias sicilianas, procurada pelos turistas do mundo todo). E a na corrupção para concessões de alvarás comerciais.

Com o poder municipal, a Cosa Nostra conquistava mais uma fonte de lucro mafioso. Além do tradicional "pizzo", a "taxa de proteção" paga pelos comerciantes para evitar mortes e acidentes, como incêndios nos estabelecimentos e roubos.

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Até Santa Rosalia, a padroeira de Palermo e que tem os ossos em uma gruta desde 1624 e à qual se atribuem infinitos milagres, sabia que Ciancimino era membro poderoso da Cosa Nostra. Tanto que os palermitmos o chamavam de "don", título criado pelos costumes tradicionais e reservado aos chefões da Cosa Nostra.

Por associação à Cosa Nostra, o prefeito Ciancimino restou definitivamente condenado. O seu mandato iniciado em novembro de 1970 foi curto. Saiu algemado em 27 de abril de 1971.

No meu livro "Máfia, Poder e Antimáfia - Um olhar pessoal sobre uma longa e sangrenta história", ganhador do prêmio Jabuti de literatura, mencionei don Vito Ciancimino e os seus vínculos com Giulio Andreotti, sete vezes primeiro-ministro da Itália, condenado por associação à Mafia e com extinção da pena pela prescrição, pela idade vetusta e prazo legal reduzido à metade.

Pablo Marçal

Marçal, candidato à prefeito na cidade de São Paulo, já foi definitivamente condenado por furto qualificado quando fazia parte de uma associação criminosa, na modalidade de quadrilha-bando.

Pelo revelado nos autos processuais, a quadrilha-bando que envolveu Marçal era especializada em golpes por programas de computador instalados por links enviados, com subtração de dinheiro de correntistas de bancos. Os continuados crimes consumaram-se em 2005.

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Nos últimos anos, o Primeiro Comando da Capital de São Paulo (PCC) resolveu infiltrar-se no poder. Como as máfias, o PCC é parasitário, ou seja, gruda para sugar e obter criminosos lucros financeiros.

Primeiro, o PCC financiou campanhas e tentou eleger os próprios candidatos. Em um segundo momento e pelo que está a notar neste momento eleitoral de 2024, o PCC, além de financiar, tenta buscar o controle de partidos políticos.

No partido de sigla PRTB, o PCC conta com um aliado, o presidente do partido, Leonardo Avalanche.

Matéria na edição desta terça-feira (27) da Folha de S.Paulo, informa a respeito: em gravação, Avalanche confessa vinculação ao PCC. No mesmo áudio, afirmou ter sido o responsável pela soltura do traficante internacional André do Rap, membro do PCC e responsável pelo tráfico da organização criminosa para fora do Brasil.

A reportagem mostra, também, o entorno de Marçal, todos do mundo do crime. Por aí, dá para imaginar a porta que Marçal abrirá, na Prefeitura e caso vença e seja empossado, para a delinquência.

O partido de Marçal, desde os tempos de Levy Fidélix (famoso pelo eterno projeto de implantação do aerotrem), é visto como "legenda de aluguel". A meta principal é a realização de negociatas,, com aproveitamento da condição de partido político ainda não cassado pelo Justiça Eleitoral.

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No partido de Marçal, e é notório que ele sabe, importam os negócios lucrativos, aéticos e ilegais, e não a política, como prestar serviços à população.

Marçal, dada a má fama do partido, já fala em mudança de agremiação partidária depois de eleito prefeito. Na verdade, inventa uma saída e finge ignorar a regra vinculante da "fidelidade partidária". A frisar não ser fácil sair com vida de uma organização criminosa.

Quem se filia a partido político abraça a linha ideológica e vincula-se às lideranças. Marçal está, pela filiação, umbilicalmente ligado a um aderente ao PCC. Para ser indicado pela legenda teve de se acertar com Avalanche do PCC.

Desculpas insossas

Cada desculpa apresentada por Marçal, para tentar esconder seu passado, o seu entorno, os tentáculos com o PCC e a sua visão social tacanha, cai sempre no campo do diversionismo, do desviar atenções para fugir das respostas.

O seu desrespeito aos direitos humanos e à dignidade da pessoa natural, - como assistido por todos os eleitores na suas infames insinuações e acusações às candidatas concorrentes Tabata Amaral e Guilherme Boulos -, demonstram falhas de caráter.

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Marçal é um espertalhão, criminoso com trânsito em julgado, com cabeça desmobiliada de valores políticos, sociais e humanos.

O candidato Marçal chegou a ser preso cautelarmente, quando colaborava, em 2005, com conhecimentos em informática para uma associação de criminosos. Isso para subtrair dinheiro da conta corrente bancária das vítimas

Prisão necessária

Importante lembrar, à luz da Constituição e da lei processual penal, de a prisão cautelar só poder sem imposta em caso de necessidade.

A periculosidade social e outros requisitos processuais legais, levaram à necessidade da prisão de Marçal, à época.

E a necessidade só desapareceu quando Marçal dedo-durou os seus comparsas. Com a delação, a custódia cautelar tornou-se desnecessária e Marçal acabou colocado em liberdade.

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A colaboração de Marçal interessou à Justiça, mas, como acontece com todos os colaboradores, a sua delação ficou evidenciada pelo oportunismo. O preço da sua traição foi o de sair da prisão: deixar a cadeia.

Marçal não delatou por arrependimento, mas por oportunismo. E continua um oportunista ao tentar justificar, sem comprovar e a usar situação famélica de "geladeira vazia", a razão de haver cometido o crime pelo qual recebeu condenação.

A propósito, Marçal beneficiou-se com a extinção da pena. Com base na pena em concreto, 5 anos e 4 meses, Marçal obteve o reconhecimento da prescrição da pretensão de punir do Estado.

Atenção. A prescrição extinguiu a pena, mas não passou uma borracha de modo a pagar o crime.

Novamente, atenção. Marçal não devolveu os valores subtraídos dos correntistas enganados por ele. Não indenizou ninguém.

De Palermo a São Paulo

Palermo, à época de don Vito Ciancimino, teve prefeito eleito pela Cosa Nostra. Não porque não se sabia ser Ciancimino membro da Cosa Nostra, pois até o "don" era usado, mas votou-se pelo medo difundido.

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O PCC, por ser uma organização criminosa de matriz mafiosa, consegue difundir o medo nas periferias. Se chegar ao poder municipal paulistano, teremos o caos, o medo, como aconteceu nos ataques promovidos pelo PCC, de 12 a 21 de maio de 2006.

Na hipótese de a capital de São Paulo eleger Marçal, dará passos largos para elevar o crime organizado a outro patamar.

Abuso de poder econômico e crimes

Como já temos casos em apurações ilícitos de abuso de poder econômico e de crimes de desobediência à ordem judicial, caso de perfis em redes diversas para continuar a burlar a Justiça eleitoral, poderemos ter, nos devidos processos legais, a cassação, caso eleito, do mandato de Marçal.

Caso seja condenado por tentativa de homicídio em Júri popular, ele conduziu incautos em aventura no Pico dos Maris, com conduta dada como integrada por dolo eventual (assumir o risco do resultado) , Marçal terá, como efeito da condenação, a perda dos direitos político, ou seja, de votar e ser votado.

Pano rápido

No brasão do munícipio de São Paulo consta o lema latino "non ducor duco" (não sou conduzido, conduzo).

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Quando o crime organizado conquista o poder, só ele conduz.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, o partido do qual Leonardo Avalanche é presidente é o PRTB, e não PRTN. A informação foi corrigida.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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