Wálter Maierovitch

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Opinião

Putin apela aos mercenários da Tchetchênia para enfrentar ucranianos

Como dizia com acerto um velho italiano do bairro paulistano da Barra Funda, os soviéticos jogavam xadrez, e os norte-americanos, damas. O velho morreu sem saber do fim do império soviético.

E sem imaginar que, em 1999, um ilustre desconhecido, ex-agente de espionagem da KGB de nome Vladimir Putin, viraria premiê russo. E não deixaria o poder. A escolha do nome do premiê teria acontecido, conforme especialistas em política russa, num pileque de vodka do então presidente Boris Iéltsin.

Atenção. O presidente russo Putin não joga xadrez nem damas, só jogos brutos. É um autocrata sanguinário, de metas imperialistas e que manda matar adversários, com frieza psicopática, em qualquer parte do mundo.

Reforço Tchetcheno

Nesta semana, Putin deu um pulo até a Tchetchênia para encontrar o seu vassalo Ramzan Kadyrov.

Ramzan é filho de Achmat, assassinado pelo mesmo grupo separatista tchetcheno que deslocou 42 guerrilheiros para tomar de assalto, em 2002, o lotado teatro Dubrovka, em Moscou. Putin não negociou, e a invasão do teatro pelas forças russas resultou em tragédia.

Ramzan, que sucedeu o pai assassinado no comando do clã Kadyrov e no governo tchetcheno, fechou acordo com Putin e governa, como tirano, essa pequena república do Cáucaso do Norte, parte integrante da Federação Russa.

A visita de Putin a Grozny foi para pedir mercenários tchetchenos, e talvez um punhado de soldados para disfarçar, para tentar retomar das forças ucranianas a região russa de Kursk. Trata-se de região estratégica de escoamento do gás russo à Europa.

Convém recordar o fato de soldados tchetchenos terem se integrado ao exército russo quando da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022.

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À época, o presidente Putin determinou a invasão da Ucrânia de modo a descumprir a Carta constitutiva das Nações, protetora da soberania dos Estados Nacionais.

Trata-se, na verdade, de mais uma ordem de Putin a Ramzan Kadyrov. Anteriormente, Putin já havia usado tchetchenos na Geórgia (2008) e na região ucraniana de Donbass (2014), iniciando uma luta de secessão.

O fantasma de Prigozhin

Retrato de Yevgeny Prigozhin em memorial em Moscou; líder do grupo mercenário Wagner morreu em queda de avião
Retrato de Yevgeny Prigozhin em memorial em Moscou; líder do grupo mercenário Wagner morreu em queda de avião Imagem: 27.ago.2023 - Natalia Kolesnikova/AFP

Segundo os 007 da inteligência europeia, os generais ucranianos usaram, para ingressar em território russo e tomar Kursk, o conhecimento de Yevgeny Prigozhin, que Putin teria mandado matar abatendo o avião comercial que o transportava.

O russo Prigozhin era o dono da empresa de mercenários Wagner. Conterrâneo e amigo de infância de Putin, fechou contrato com o governo russo, num misto de privatização da guerra.

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A Wagner foi contratada, frise-se, para conquistar parte da Ucrânia ao lado das forças russas e dos tchetchenos.

Prigozhin atritou com o ministro da defesa russa. Passou a aspirar o seu lugar, e isso gerou atrito direto com Putin.

Com o objetivo de pressionar, Prigozhin deslocou uma fração da tropa da Wagner estacionada na Bielorrússia e chegou, com facilidade e sem disparar tiros, próximo à porta do Kremlin.

Os generais ucranianos perceberam que a Rússia, nas linhas das suas fronteiras, está sempre desguarnecida.

Prigozhin morreu, mas deixou revelada a fragilidade russa nas fronteiras. E os estrategistas militares ucranianos surpreenderam Putin.

Putin não vai deslocar as tropas russas da região de Donbass para Kursk. Pelo jeito, vai enviar os tchetchenos.

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Um detalhe, o batalhão separatista tchetcheno conhecido como Sheik, do comandante Mansur, combate ao lado e em apoio às forças ucranianas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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